Documentos do sistema de monitoramento de colaborações da Procuradoria-Geral da República, aos quais a revista Veja teve acesso, mostram que até agosto deste ano 121 delatores da Operação Lava-Jato devolveram 823,2 milhões de reais aos cofres públicos. Desse valor, um pouco mais da metade 384,7 milhões de reais já foi repassado para os órgãos que foram alvos de desvios. Parece muito, mas o dinheiro desviado foi bem maior. Uma das negociações mais importantes e complicadas, realizadas pela força-tarefa da Lava-Jato, foi a que resultou na delação premiada do empreiteiro Marcelo Odebrecht. Dono da maior construtora do país, ele relutou bastante em se tornar um colaborador, alegando que não iria fazer papel de dedo-duro. No fim de 2016, Marcelo decidiu contar tudo o que sabia sobre mais de 200 políticos, entre ex-presidentes da República, deputados, senadores e ministros, além de esquemas de corrupção que ele também comandara em países da África e da América Latina.
Veja informa que para compensar o que havia faturado com a corrupção (9,6 bilhões de reais), Marcelo pagou 73,3 milhões de reais em multas um valor irrisório diante de seu patrimônio bilionário. Atualmente, está em prisão domiciliar o que faz supor que, no final das contas, saiu lucrando. No topo da lista dos delatores que vão devolver dinheiro aos cofres públicos está o lobista Zwi Skornicki, preso em fevereiro de 2016 por pagar propina em troca de contratos da Petrobras. Na condição de delator, revelou que deu ao PT 4,5 milhões de dólares para a campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010 e que subornou um deputado do partido para evitar sua convocação numa CPI. Para se livrar da cadeia, pagou uma multa equivalente a 87 milhões de reais, que correspondem ao saldo de suas contas bancárias na Suíça e entregou dezenas de obras de arte à Lava-Jato.
Não há um critério objetivo para fixar valor de multas trata-se de uma negociação entre autoridades e delatores que passa pela importância do que eles têm a revelar ou de sua participação no crime. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa também arcou com uma multa superior à dos executivos da Odebrecht. O primeiro delator da Lava-Jato pagou um preço salgado quando puxou a fila dos colaboradores 79,4 milhões de reais. Esse valor corresponde aos recursos desviados da área de abastecimento da estatal, comandada pelo ex-executivo, para contas bancárias clandestinas no exterior. Para escapar da prisão, Paulo Roberto ainda abriu mão de uma série de bens entregou uma lancha, um terreno e um automóvel Land Rover. Hoje reclama das dificuldades econômicas que sua família enfrenta.
De acordo com o levantamento a que Veja teve acesso, o empresário Joesley Batista, dono da JBS, que contou que subornava políticos e partidos, pagou 11 milhões de reais. Suas revelações inspiraram dezenas de investigações envolvendo autoridades, incluindo os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Michel Temer e Dilma Rousseff. Emílio Odebrecht, controlador do grupo Odebrecht, relatou como a maior empreiteira do país comprava o poder. Disse ter pago 78,6 milhões de reais em propinas e o seu depoimento foi decisivo para a condenação do ex-presidente Lula, atualmente recolhido a uma sala na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Felipe Rocha Parente, conhecido como o homem da mala, confessou que entregava propina desviada da Transpetro a senadores do MDB. As investigações sobre ele seguem em andamento. Ao finalizar a matéria publicada por Veja, o repórter Thiago Bronzatto afirma: As multas pagas por aqueles que decidiram colaborar são, em alguns casos, uma ninharia perto da fortuna roubada. O crime pode acabar compensando para alguns, ao menos por enquanto.
Da Redação, com Veja