Aliados e interlocutores do governador João Azevêdo (PSB) avaliam que ele não sofreu qualquer desgaste ao decidir se ausentar do evento S.O.S. Transposição, realizado em Monteiro, no cariri, no fim de semana, sob a coordenação do ex-governador Ricardo Coutinho, a pretexto de cobrar do governo federal a retomada das obras do projeto de interligação de bacias no semiárido. Na opinião de porta-vozes do governador, ficou claro que independente de ter se ausentado de um ato meramente político o governador passou a impressão de que está atuando, em outras frentes, para pressionar o governo Bolsonaro a não deixar inconcluso o programa da transposição de águas. Analisam, ao mesmo tempo, que a opinião pública está informada sobre o confronto que Ricardo tenta fixar com o candidato que apoiou na campanha de 2018 e que as reações não são favoráveis ao comportamento do ex-governador.
Um deputado estadual do núcleo do governador lembra que nenhum gestor do Nordeste compareceu ao S.O.S. Transposição, o que teria representado um fiasco para a estratégia de Coutinho em ganhar visibilidade nacional. Esses gestores, incluindo Azevêdo, fazem parte de um Fórum que cobra com insistência medidas do governo Bolsonaro para equacionar demandas de interesse da região Nordeste, e a perspectiva é de que essa cobrança se torne mais sistemática ainda. No final das contas, quem acabou garantindo quórum e palanque para Ricardo Coutinho foi uma ala do PT, que teve até integrantes barrados no palanque, ironizou um secretário da confiança de João Azevêdo.
Enquanto persistem as discussões no rescaldo do evento pela transposição das águas do rio São Francisco, cresce a preocupação com a indefinição do comando do PSB na Paraíba por parte de deputados estaduais, prefeitos, vereadores e outras lideranças políticas. Passados 15 dias da dissolução do diretório estadual, com a destituição de Edvaldo Rosas da presidência, numa operação articulada por Ricardo com o aval do presidente nacional Carlos Siqueira, a própria cúpula em Brasília não deu passos concretos para resolver o imbróglio. Mantém-se na expectativa de que os próprios socialistas paraibanos se entendam, enquanto expoentes do PSB estadual preferem não se pronunciar a respeito.
A direção nacional desmentiu, nas últimas horas, a informação de que o secretário executivo de Planejamento do governo, Fábio Maia, teria sido nomeado como dirigente interventor do PSB após a dissolução ocorrida no mês passado. Nada mudou no cenário do partido na Paraíba, assegurou a Executiva socialista. O mesmo desmentido foi feito pelo presidente municipal do PSB em João Pessoa, Ronaldo Barbosa, adiantando que manteve contato com Carlos Siqueira e este vocalizou preocupação com o sério impasse reinante. Siqueira continua sustentando que não houve intervenção da Executiva Nacional, mas, sim, auto-dissolução do diretório após carta de renúncia subscrita por 51% dos membros.
Nonato Guedes