O pensador Mario Sergio Cortella, que faz palestra hoje à noite no teatro A Pedra do Reino, em João Pessoa, foi definido pela revista Veja, em sua última edição, como um dos filósofos pop, ao lado de Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé. Uma matéria da revista, assinada por Giulia Vidale, descreve que os três pensadores conquistam fãs ao traduzir raciocínios complexos para o cotidiano brasileiro. Eles tratam de Epicuro, Schopenhauer e Hegel como quem lida com as ideias de Anitta, Whinderssson Nunes e Bruna Marquezine, compara a reportagem.
Nas redes sociais, somam mais de 4,5 milhões de seguidores no Instagram, 3,5 milhões no Facebook, para lá de 300 000 no Twitter e 1,5 milhão no YouTube. São 150 palestras anuais, parte delas em teatros, com contrato médio por empreitada estimado em 25 000 reais. Juntos, já venderam 3,5 milhões de livros 1,2 milhão de exemplares em apenas uma editora, a Planeta, que acaba de lançar Cortella&Karnal&Pondé Felicidade Modos de Usar, fruto de um debate recente. A filosofia pop é expressão criada por Gilles Deleuze ( 1925-1995) nos anos 1970, quando o mundo ocidental começou a misturar epistemologia com história em quadrinhos. Cortella (65 anos), Karnal (56) e Pondé (60) são, hoje, os três mosqueteiros do pensamento no Brasil ladeados por um quarto personagem, Clóvis de Barros Filho, que prefacia o mais recente volume da trinca.
Atuantes em universidades de ponta como USP, PUC e Unicamp, os três conseguiram a façanha de, como intelectuais, virar ídolos populares. Luciano Marques de Jesus, professor de filosofia da PUC-RS, explica o fenômeno: É notável o fato de eles tirarem a filosofia da academia e a levarem para a casa, para a vida das pessoas, de forma que elas entendam conteúdos complexos. Cortella, Karnal e Pondé costumam citar personagens badalados, figuras coladas ao imaginário universal, porque essa é a regra do jogo. É um recurso de aproximação que tem funcionado, atrai leitores e faz as plateias abrir a boca de surpresa e satisfação, como diante de mágicos que tiram coelhos da cartola, informa Giulia Vidale. A trinca conquistou espaço no Brasil de forma gradativa.
A fama coincidiu com os humores do país que em 2013 foi às ruas, em 2015 e 2016 bateu panelas para tirar Dilma Rousseff e em 2018 elegeu a direita radical de Jair Bolsonaro. Nesse processo, como observa a resenha da Veja, tudo se esgarçou, famílias romperam e, num país rachado ao meio, tempo de homens partidos, muita gente procurou o único remédio à mão: pensar. E conclui a resenhista da Veja: De certo modo, ao tratar da felicidade e seus modos de usar, filosofando em português, a tríade responde a uma frase do recente romance de Michel Houellebecq, Serotonina: hoje, em dia devemos considerar a felicidade como um sonho antigo; pura e simplesmente não há condições históricas. Há, sim, como demonstram Cortella, Karnal e Pondé.
Nonato Guedes