Diante da divergência com o governador João Azevêdo nas hostes do PSB que a cúpula nacional pretende equacionar até segunda-feira aliados do ex-governador Ricardo Coutinho cogitam a hipótese de retorno seu aos quadros do Partido dos Trabalhadores, em posição de destaque. O PT foi o partido que marcou a trajetória política de Ricardo nos seus primórdios mas ele colecionou hostilidades e resistências quando anunciou a pretensão de ser candidato a prefeito de João Pessoa nos anos 2000. Ricardo enfrentou processo interno de expulsão por suposta infidelidade partidária e, ao pressentir que manobrava-se para rifá-lo do páreo, ingressou no PSB, candidatou-se em 2004 e foi vitorioso como gestor da Capital, reeleito em 2008.
Nos últimos anos, à frente do governo do Estado, Ricardo ensaiou passos para reaproximação com os petistas, a partir da abertura de canais com líderes nacionais da agremiação. Ele foi solidário com a presidente Dilma Rousseff por ocasião do processo de impeachment a que ela foi submetida em 2016 e chegou a trazer Dilma a João Pessoa para uma palestra no Espaço Cultural, a fim de se defender das acusações de irregularidades administrativas e prática de pedaladas fiscais que teriam sido detectadas pelo Tribunal de Contas da União. Dilma aproveitou o ensejo para tentar massificar a narrativa de que estava sendo vítima de um golpe parlamentar causado por interesses contrariados. Posteriormente, Ricardo trouxe Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a inauguração informal da transposição do rio São Francisco, com a chegada das águas em municípios constantes dos eixos da interligação de bacias.
Quando o ex-presidente Lula da Silva teve sua prisão decretada por ordem do então juiz Sergio Moro, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sendo recolhido à Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, Ricardo Coutinho engrossou com veemência os protestos contra o que chamou de arbitrariedade e perseguição política. Tentou, numa ocasião, visitar o ex-presidente em Curitiba na companhia de outros governadores e líderes políticos, mas foi barrado por determinação judicial. Posteriormente, conseguiu ter acesso a Lula, a quem transmitiu, pessoalmente, sua solidariedade. Na semana passada, já ex-governador, Ricardo Coutinho trouxe a Monteiro, no cariri paraibano, o ex-candidato a presidente da República pelo PT, Fernando Haddad, e a presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, para o evento SOS Transposição, cobrando do governo do presidente Jair Bolsonaro a continuidade das obras do projeto deflagrado no governo de Lula da Silva. O evento de Monteiro foi ignorado pelo governador João Azevêdo, do PSB, sinalizando o distanciamento entre ele e o antecessor, e Ricardo contou com apoio logístico de expoentes do Partido dos Trabalhadores na Paraíba, embora o ex-deputado federal Luiz Couto, que é secretário do governo Azevêdo, tenha sido barrado no palanque.
Entre os petistas não há consenso favorável à reabsorção do ex-governador nas fileiras da legenda, e há mesmo deputados estaduais em exercício, como Anísio Maia, que criticam o estilo personalista de Ricardo Coutinho. Em outras áreas petistas, não há resistências a um virtual ingresso de Coutinho, pairando questionamento, entretanto, sobre se ele deveria assumir o comando do partido. Oficialmente, Ricardo não confirma gestões ou interesse em voltar ao PT. Diz que seu foco está direcionado ao apelo de companheiros do PSB para que dispute a presidência estadual do partido, no vácuo da disssolução do diretório decretada pela Executiva Nacional e que destituiu, ainda, Edivaldo Rosas da presidência. Há uma expectativa quanto à informação do presidente Carlos Siqueira de que a direção nacional baterá o martelo sobre o impasse na próxima semana. O governador João Azevêdo evita tecer comentários ou especulações sobre o desfecho da disputa interna. E o deputado Rubens Germano, do PSB, identifica interesse divisionista da oposição por trás da briga entre Ricardo e João, mas ainda aposta fichas em que será alcançado um consenso envolvendo os dois líderes socialistas.
Nonato Guedes