O anúncio, pelo presidente Jair Bolsonaro, do sub-procurador Augusto Aras para Procurador-Geral da República, no lugar de Raquel Dodge, confirma que o presidente Jair Bolsonaro não tem limites na sua cruzada insaciável para exercer o poder nem qualquer compromisso com a democracia ou com a Constituição. Aras não figurou entre os votados na consulta informal realizada em todo o país pela Associação Nacional dos Procuradores da República. Pela lei, o presidente não é obrigado a nomear o mais votado nessa consulta mas a praxe vinha sendo esta, como mecanismo para democratizar o processo e fortalecer a instituição nas decisões que viesse a tomar, contrariando, inclusive, o poder de plantão.
Resultado: a PGR passa a ser ocupada por um ilustre desconhecido, cujas ideias não foram expostas nem debatidas na campanha que se promoveu. Pior: suspeita-se que Augusto Aras venha a ser marionete nas mãos do presidente Bolsonaro, retribuindo com fidelidade canina o presente que recebeu do mandatário. Essa postura vai de encontro ao que dispõe a própria Constituição, que caracteriza o Ministério Público Federal como um órgão autônomo, soberano nas suas atribuições e imune a injunções externas que signifiquem interferência nas suas decisões. Entre os procuradores, a reação foi amplamente negativa, reforçada pelo desconhecimento sobre a caixa-preta de pactos não republicanos que possam ter sido firmados entre o novo PGR e Bolsonaro.
Desde que se investiu no cargo, Jair Bolsonaro tem um pilotado um governo ciclotímico que põe as instituições e a sociedade brasileira em sobressalto a cada dia, porque a cada dia o governo faz e recua e o presidente não controla a própria língua, entregando-se freneticamente a um festival de baboseiras que tem derrapado para ofensas a chefes de Estado de países respeitáveis, com os quais o nosso País poderia dialogar para inserir-se na pauta atualizada das questões em discussão nos mais diferentes fóruns. Ao defender a soberania da Amazônia, uma bandeira teoricamente justa, o presidente agiu como o macaco em loja de louças, atirando diatribes contra o presidente da França e sua mulher. Também investiu, por dá cá aquela palha, contra a Noruega. Jair tem uma compulsão mórbida por atacar Nações desenvolvidas, o que denota um distúrbio psicológico extremamente grave.
No contraponto, tem agido como um cãozinho amestrado quando se trata de cortejar e bajular os Estados Unidos e o presidente Donald Trump. A grande prioridade de Bolsonaro, nos mais de seis meses à frente da presidência da República, não é a reforma da Previdência, como ele alardeia, ou a reforma tributária, que anda a passos de cágado. Pasmem: a prioridade número UM do presidente da República que derrotou nas urnas em 2018 o candidato do PT, Fernando Haddad, alter-ego de Luiz Inácio Lula da Silva, é o culto ao nepotismo, com a indicação do seu filho, Eduardo Bolsonaro, para ocupar, a todo custo, a embaixada do Brasil em Washington, munido da credencial de ter passado uma temporada em Tio Sam, onde aprimorou dotes no ramo de fritar hambúrguer, requisito que, pelo que se sabe, não é inerente a postos diplomáticos relevantes. Daí a submissão bolsonariana aos Estados Unidos.
Em relação à sacramentação de Augusto Aras, o presidente argumentou que o indicado já foi criticado pelos veículos de imprensa, o que, segundo ele, é um bom sinal, ou seja, de que foi uma escolha boa. Bolsonaro adora pisar na imprensa, ofender artistas e intelectuais, brigar com quase todo mundo. No que tange a missões que o ungido do presidente se compromete a desempenhar à frente da PGR está, supostamente, o respeito ao produtor rural, bem como o casamento da preservação do meio ambiente com o produtor. O escolhido precisa ser aprovado em sabatina no Senado, mas o Planalto não conta com uma derrota ali e se houver derrota é capaz de lutar para impor a ferro e a fogo o queridinho de Bolsonaro. A Associação Nacional de Procuradores da República registra, em tom desolador, que pela primeira vez em dezesseis anos o novo PGR não está na lista tríplice escolhida na eleição interna da ANPR. A lista, inclusive, foi entregue a Bolsonaro pelo procurador paraibano Fábio George, presidente da Associação Nacional, que confessou não ter recebido garantia de respeito democrático. Foi o que seu, porque apesar de invocar lealdade a preceitos constitucionais o presidente age de forma autocrática. Ele continua sapateando na cara da opinião pública.
Nonato Guedes