No vídeo do seu depoimento prestado em acordo de delação, dentro dos processos relacionados à Operação Calvário na Paraíba, a ex-secretária de Administração do governo estadual, Livânia Farias, revelou que a quantia de R$ 81 mil apreendida pela polícia em 2011, enviada pelo advogado Bernardo Vidal Domingos dos Santos, seria utilizada para pagamento de dívidas da campanha eleitoral do candidato eleito ao governo, Ricardo Coutinho (PSB). Trechos do vídeo foram divulgados, ontem, pela TV Cabo Branco, afiliada da Globo, no JPB Segunda Edição. Livânia confirma que Coriolano Coutinho, irmão do ex-governador Ricardo Coutinho, era integrante do grupo mentor da contratação do escritório de advocacia de Bernardino Vidal para recuperar créditos tributários da prefeitura de João Pessoa, garantindo a devolução de parte dos horários, dentro de um esquema de propina.
A delação premiada de Livânia foi feita ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público da Paraíba, e demonstra conexões de pagamentos irregulares entre a gestão de Ricardo na prefeitura de João Pessoa e a gestão de Ricardo no governo do Estado. A ex-secretária contou que, na época da campanha, em 2010, solicitou ajuda a Bernardo por haver um rescaldo muito alto de dívidas da campanha do governador eleito. Também confessou que a letra L constante em um dos bilhetes apreendidos pela polícia referia-se a ela, que foi beneficiada por propinas, da mesma forma como possivelmente foram beneficiados Coriolano Coutinho, Gilberto Carneiro, tendo sido destinado um valor para a servidora Laura Farias. Em 2010, Ricardo derrotou José Maranhão, que concorreu pelo PMDB.
Livânia narrou ter conhecido Bernardo Vidal através de Gilberto Carneiro, que teria insistido por várias vezes em promover um encontro na Secretaria de Finanças de João Pessoa para o advogado do Recife fazer a entrega do portfólio de sua empresa. A sua apresentação a Bernardo foi feita por Gilberto Carneiro durante evento no Fórum Criminal da Capital paraibana e, na ocasião, Gilberto disse-lhe que o advogado tinha solução para a questão do parcelamento e que seria vantajosa para o município. O parecer para a contratação do escritório de Bernardo teria sido elaborado por Carneiro e já chegou pronto para Livânia assinar. A ex-secretária confessou que recebia valores aleatórios, entre R$ 3 mil e R$ 5 mil, entre o final de 2009 até 2010, antes de iniciar a campanha eleitoral que favoreceu Ricardo. Os pagamentos eram feitos em depósitos bancários ou pessoalmente.
As revelações de Livânia, que vinham sendo ansiosamente aguardadas pela opinião pública desde a sua prisão em Cabedelo, repercutiram como uma bomba nos meios políticos. Deputados do próprio esquema de Ricardo Coutinho admitiram, ontem, que Livânia pode vir a se transformar no maior cabo eleitoral da oposição, dependendo do que ainda for revelado pelo Ministério Público acerca das suas revelações em colaboração premiada. Os segredos que vem liberando para o conhecimento público poderão dificultar o projeto do PSB para as eleições municipais do próximo ano. A dados de hoje, Ricardo Coutinho é cotado como o nome mais forte do PSB para a disputa, embora afirme, taxativamente, que não pretende concorrer.
Nonato Guedes