É fato que, a dados de hoje, o prefeito reeleito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), aparentemente vê-se em dificuldades para forjar um nome competitivo à sua sucessão na disputa do próximo ano. Caminhando para oito anos de mandato na prefeitura em 2020, Luciano perdeu a chance de comandar as oposições na Paraíba ao jogar por terra uma acalentada candidatura ao governo do Estado no ano passado. Investiu em solução familiar, lançando o irmão gêmeo Lucélio, que ficou em segundo lugar no primeiro turno, quando a parada foi decidida. Cartaxo ensaiara alianças com o clã Cunha Lima, de Campina Grande e outros grupos, a exemplo do PP da senadora eleita Daniella Ribeiro. Em certa medida, ele se distanciou das forças de esquerda, compondo-se no campo do centro e da direita, e ficou sem maior cacife no cenário estadual, estando indefinido quanto ao próprio futuro político quando cruzar os umbrais do Centro Administrativo Municipal.
No círculo que gravita politicamente em torno da égide do alcaide da Capital, há pelo menos um trio de secretários cortejando a indicação para candidatura a prefeito com a bênção oficial. Mas embora ocupem pastas teoricamente estratégicas, que dão visibilidade aos titulares, não avançaram muito em termos de densidade eleitoral, de modo que sem empurrão maior, do prefeito e de estruturas com que o PV vier a se coligar, não deverão ir muito longe na caminhada pelas urnas em 2020. Luciano apegou-se a um truísmo para fixar o perfil do candidato que pretende ungir, sugerindo que ele precisará demonstrar identidade ou afinidade com o projeto que tem sido executado há sete anos em João Pessoa. Não é uma colocação que surta maior efeito, ou apelo positivo, junto ao eleitorado.
Diante da inércia e da aparente falta de opções competitivas para jogar á liça na disputa pela sua sucessão, o prefeito Luciano Cartaxo entrega-se à pachorra de assistir de camarote à briga que se desenrola no arraial do Partido Socialista, entre o governador João Azevêdo e o ex-governador Ricardo Coutinho, na expectativa de que possa vir a extrair algum dividendo desse contencioso senão em termos de alinhamento, pelo menos em termos de vantagem causada pela divisão reinante naquelas hostes. O alinhamento teoricamente provável que Luciano poderia construir seria com expoentes do grupo de Azevêdo, já que com Ricardo, de há muito tempo, não há acordo possível. A ausência de uma relação republicana entre o ex-governador e o atual prefeito da Capital pesou para agudizar o distanciamento entre eles, afora outras idiossincrasias que tornam tanto Ricardo não palatável para Luciano como Luciano não palatável para Ricardo.
Há outros partidos se movimentando em razão da divergência que assolou as hostes governistas em tão pouco de duração do governo que sucedeu a Ricardo Coutinho. No campo das oposições, o deputado Walber Virgolino tenta ser adotado como opção viável até por causa do seu discurso focado na segurança pública, que é um dos pontos de estrangulamento das políticas públicas, reclamado por segmentos conscientes da sociedade. Correndo por fora, pelo Solidariedade, mas na expectativa de vir a ser imantado por Luciano, está o vice-prefeito Manoel Júnior, que esperou em vão a chance de assumir a prefeitura logo no ano passado, caso o titular se desincompatibilizasse para encarar o governo do Estado. O enredo foi outro, como todos sabem. E Manoel ficou a ver navios.
Mas há, também, quem venha com garra para disputar a prefeitura para valer, não para fazer coreografia este é o caso do Democratas, pilotado pelo deputado federal Efraim Filho, que pode vir a ser o ungido como candidato ou, então, ceder a vez para Raoni Mendes, que tem identificação com a Capital ou para o deputado Felipe Leitão, uma aquisição recente do DEM na Assembleia Legislativa. Efraim dá a entender que o diferencial do pleito vai estar no dinamismo administrativo que o Democratas tentará vender em contraponto à suposta apatia de Cartaxo em quase oito anos. Há, ainda, na raia, o PTB de Wilson Santiago (pai e filho), e o PT, que ameaça ter candidatura própria.
No que diz respeito ao prefeito Luciano Cartaxo, apesar de ter empreendido ações proativas à frente da municipalidade pessoense, ele não criou uma comunicação mais marcante com a opinião pública a ponto de credenciá-lo no papel de líder. Se não chega a ser atacado com veemência, é defendido com parcimônia, resultando daí, no imaginário do eleitor, a fixação de imagem de um político sem maior carisma ou substância, havendo quem apregoe que com Cartaxo voltará a maldição segundo a qual a prefeitura de João Pessoa é cemitério de políticos. Claro que a maldição foi quebrada uma vez pelo próprio Luciano, mas não custa nada invocar mantras exorcistas, para quem acredita em exotismos ou precisa se fiar em alguma coisa para não ficar totalmente sem ficha no jogo.
Nonato Guedes