As brigas por controle de partidos, como a que se verifica, hoje, na Paraíba, envolvendo os grupos do governador João Azevêdo e do ex-governador Ricardo Coutinho dentro do Partido Socialista Brasileiro (PSB) constituem uma espécie de marca registrada no cenário político nacional e geralmente produzem reações até passionais ou explosivas. Uma dessas reações partiu do ex-governador do Rio, Leonel Brizola. Ao retornar ao Brasil na esteira da anistia concedida no fim do regime militar, em pleno governo do general João Figueiredo, Brizola deparou-se com a movimentação causada pela volta do pluripartidarismo, substituindo o bipartidarismo que vigorou com a eclosão do golpe de 64 e que foi representado pela Arena, partido de sustentação oficial, e MDB, tido como partido de oposição consentida.
De olho no espólio político-eleitoral deixado pelo ex-presidente Getúlio Vargas, que suicidou-se com um tiro no peito em 24 de agosto de 1954, deixando uma Carta Testamento em que acusava forças terríveis de tentar impedi-lo de governar para os pobres, Brizola entrou na Justiça para obter o registro do PTB, partido estimulado por Vargas juntamente com o PSD. O caudilho gaúcho esbarrou, porém, em manobra arquitetada com o respaldo do Palácio do Planalto e que acabou dando a sigla a Ivete Vargas, remanescente da família de Getúlio. Quem operou junto ao Tribunal Superior Tribunal para negar o controle do PTB a Brizola foi o general Golbery do Couto e Silva, chefe da Casa Civil da presidência da República e considerado como um grande estrategista político do regime militar, famoso por adotar conceitos como o de sístoles e diástoles da política uma variação dos avanços e recuos inerentes a essa atividade.
Confrontado com a perda da sigla, Leonel Brizola chorou perante jornalistas, numa entrevista coletiva. Mas logo se refez do golpe psicológico e político e viabilizou a criação do PDT, Partido Democrático Trabalhista, que ainda hoje subsiste no quadro partidário nacional. O controle do PDT na Paraíba, aliás, passou por muitas mãos e gerou várias polêmicas. O ex-deputado e ex-senador Vital do Rêgo Filho, atual ministro do Tribunal de Contas da União, chegou a se filiar à legenda e ser cogitado como alternativa para disputar o governo do Estado. Só veio a entrar nessa disputa em 2014, pelo PMDB, não indo, sequer, para o segundo turno. O PDT paraibano também foi ocupado pelo ex-governador Wilson Braga, numa das migrações de siglas constantes do seu currículo. Passou pelas mãos de Chico Franca, ex-prefeito de João Pessoa, e atualmente é controlado pelo deputado federal Damião Feliciano, marido da vice-governadora Lígia Feliciano.
Quanto ao PTB, chegou a ter como estrela na história política recente da Paraíba o ex-governador Tarcísio Burity, que esquentou pouco tempo na legenda. Uma das mais célebres disputas pela direção do partido no Estado deu-se entre os ex-deputados federais Armando Abílio e Carlos Dunga, envolvendo grupos políticos de outros partidos, como o de José Maranhão, do PMDB, e de Ronaldo-Cássio Cunha Lima, do PSDB. O antigo PFL, que hoje é o Democratas, produziu uma acirrada disputa entre o ex-deputado federal Evaldo Gonçalves e o ex-senador Efraim Morais. A queda-de-braço foi vencida por Efraim e seu grupo e ele se elegeu ao Senado, em 2002, por essa sigla. Morais era remanescente da Arena e do PDS. Ainda se mantém na direção do sucedâneo do PFL, o DEM, tendo como coadjuvante ilustre seu filho, o deputado federal Efraim Filho.
Ricardo Coutinho, que atualmente luta para chamar de seu o Partido Socialista Brasileiro, já enfrentou batalhas históricas no Partido dos Trabalhadores a principal delas a que o levou a tentar ser ungido candidato a prefeito de João Pessoa, em 2004. Rifado internamente e até ameaçado de expulsão por alegada infidelidade partidária, Ricardo deu por encerrado o confronto nas hostes petistas e aboletou-se no PSB, de onde desalojou a ex-deputada Nadja Palitot, que ainda hoje não o perdoa pela manobra que saiu vitoriosa. Foi pelo PSB que Ricardo disputou e ganhou a prefeitura da Capital em 2004 e 2008 e o governo do Estado, em 2010 e 2014. Agora, está a um passo de expulsar o ex-aliado, governador João Azevêdo, dos quadros da legenda, mas corre o risco de herdar uma agremiação completamente esvaziada, em face do processo amplo de debandada que está ocorrendo internamente.
Nonato Guedes