Não adianta tapar o sol com a peneira porque foi grande o estrago operado nas hostes do PSB paraibano a partir da dissolução do diretório regional. Vá lá, conforme insista o presidente nacional Carlos Siqueira, que não houve uma intervenção direta, mas uma autodissolução. Isto é mero exercício semântico, apropriado para quem não quer contar a verdade em situações assim, a semântica presta-se a floreios que equivalem a voltas olímpicas no jogo de palavras, sem chegar a lugar nenhum, ou, mais precisamente, à meta do gol. Pois o que se deu na Paraíba, e é isto que intriga analistas políticos, foi o desmonte de uma agremiação que havia se consagrado no plano eleitoral em 2018. E destruir uma obra que dá resultado é coisa de iconoclasta.
O que a cúpula nacional socialista fez foi ignorar a realidade que emergiu da configuração política-eleitoral do ano passado em nosso Estado. Nesse desenho, o PSB elegeu o governador João Azevêdo em primeiro turno, embora ele fosse neófito, já que até então não havia disputado mandatos políticos. Fez mais: elegeu, pela primeira vez, na história recente do Estado, um senador socialista Veneziano Vital do Rêgo, que, malgrado ter tido origens no PMDB, atual MDB, havia se convertido ao credo do PSB e, como tal, foi admitido e absorvido como discípulo fiel. Também pela primeira vez, o PSB paraibano logrou eleger um deputado federal Gervásio Maia, que soube utilizar com habilidade o status de presidente da Assembleia Legislativa do Estado para lastrear a candidatura à Câmara com chances, tal qual revelado no desabrochar das urnas.
Acrescente-se a esse enredo a eleição de uma bancada expressiva de deputados estaduais, levando o PSB a fazer outros partidos comerem poeira na contagem dos votos drenados das urnas passadas. Sob todos os títulos, estava assegurada e em grande estilo, convenhamos a continuidade do projeto socialista de poder empalmado por oito anos no Estado por Ricardo Coutinho e por mais oito anos na Capital, João Pessoa, também por Ricardo Coutinho, que neste caso particularíssimo dividiu a execução e os dividendos com o então vice-prefeito escolhido in pectoris, Luciano Agra. Ora, qualquer partido que estivesse no poder e assegurasse a continuidade dos seus quadros nessas esferas de poder, só teria motivos para comemorar. Ainda hoje, estaria soltando fogos de artifício, em paralelo com o festejo dos êxitos colhidos já na gestão de João Azevedo. Mas no PSB de Ricardo Coutinho não é bem assim que a banda toca ou que as coisas funcionam.
Puxando pela memória, vale lembrar que em plena efervescência do Coletivo Ricardo Coutinho, um agrupamento criado à imagem e semelhança do líder com raízes nas classes populares, não nas oligarquias tradicionais, quebrou-se o encanto com a iniciativa do próprio Ricardo de decretar a extinção do tal Coletivo, confundido pelos incautos com alguma linha de transporte urbano, dessas que operam no cotidiano do pessoense. Não houve choro nem ranger de dentes com essa medida porque, a bem da verdade, o Coletivo não era um provedor de cargos, desses que tanto despertam apetites e cobiça dos políticos, com ou sem mandato. Sendo assim, ninguém ficou exposto ao sereno. Apenas arquivava-se o Coletivo e partia-se para outra denominação que identificasse o gene dos socialistas tupiniquins. A fórmula, de certeiro apelo criativo em termos de marketing, foi a caracterização dos socialistas como girassóis. O pólen, na verdade, já vinha sendo disseminado há algum tempo, mas ganhou força quando finou-se o Coletivo. Quanto à ideologia socialista, era como sempre foi apenas um retrato na parede, uma alegoria para empurrar os girassóis para o campo democrático e progressista e diferenciá-los da direita raivosa que haveria de eclodir, como acabou irrompendo com a eleição do outsider Jair Bolsonaro a presidente da República e a expansão dos seus bichinhos amestrados por todo o país, divididos entre milicianos e trogloditas do saber.
O Sr. Carlos Siqueira, que está presidente nacional do PSB e que chegou a tanto por artes do destino, com a morte de Eduardo Campos, que era a grande referência do Partido Socialista pós-moderno por ser posterior à ditadura militar, achou de entender que para a agremiação não é importante ter como carro-chefe, na Paraíba, um governador de Estado, com o fascínio da caneta que ele exerce e do potencial de realização que lhe cabe executar. Ou a Paraíba é desimportante ou o governador João Azevedo é um zero na contabilidade socialista nacional. Nesse caso, convoca-se Ricardo Coutinho, que já preside a Fundação João Mangabeira e que conserva o perfil do líder, aquele a quem todos os outros seguem incontinenti. Salta aos olhos de todos o que deu nessa empreitada golpista: o esfacelamento de um partido justo no auge da chegada ao poder. O PT, que soube tirar proveito e como soube da chegada ao poder, deve estar dando gargalhadas com o primarismo de Siqueira, moldado sob encomenda para lustrar a vaidade de Ricardo Coutinho. O resto é lana caprina, creiam.
Nonato Guedes