A possibilidade de permanência do governador João Azevêdo no Partido Socialista Brasileiro na Paraíba é praticamente nula, conforme revelaram interlocutores da confiança do chefe do Executivo. De acordo com essas fontes, diante das turbulências verificadas nos últimos dias e do feito do ex-governador Ricardo Coutinho conseguindo junto ao diretório nacional da legenda a dissolução da Executiva estadual, Azevêdo passou a examinar alternativas partidárias que lhe possibilitem sobreviver politicamente. Uma das opções seria o PDT, que tem como expoente nacional o presidenciável Ciro Gomes e como figura de destaque na Paraíba a vice-governadora Lígia Feliciano. Há contatos ensaiados, também, com integrantes do Rede.
A convicção mais forte do governador paraibano é a incompatibilidade de convivência no seio do PSB. Azevêdo sentiu-se traído, tanto por aliados de Ricardo Coutinho como pela presidência nacional do partido, comandada por Carlos Siqueira (PE). No círculo de Azevêdo, a impressão dominante é a de que o diretório nacional do PSB tomou posição a favor de Ricardo, por avaliar que ele teria cacife maior de liderança nos destinos do Estado. Como desdobramento da atitude, os partidários do governador deflagraram uma debandada em massa das fileiras socialistas, criando incerteza quanto ao futuro da sigla no Estado. Mas o governador tem todo o tempo do mundo para se manifestar, revelaram.
A alusão refere-se ao fato de que Azevêdo, por não ser candidato a prefeito de João Pessoa no próximo ano, estaria com a pista livre para avaliar os prós e contras de qualquer definição que vier a tomar. O governador, ressaltam os interlocutores, ficou consternado com a divisão que se espalhou nas hostes socialistas e extremamente desapontado com o ex-governador Ricardo Coutinho, insinuando que em relação a este o diálogo deveria ter sido esgotado antes de subir à chancela da direção nacional. As queixas de Azevêdo alcançam, também, o dirigente nacional do PSB Carlos Siqueira, que não teria sido correto ao tratar de questões delicadas do quadro político paraibano, culminando com gesto unilateral que teoricamente privilegia Ricardo.
O governador não deseja migrar do campo da esquerda, onde politicamente atua na conjuntura vigente. Trata-se de uma estratégia pragmática, para facilitar a própria cruzada que o gestor paraibano passou a desencadear com o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que não estaria sendo generoso com a Paraíba quanto à liberação de recursos para projetos de interesse público. Azevêdo tem dito que o impasse não o afastará da agenda administrativa, que considera urgente para a execução de programas que idealizou. Mas, independente disso, o governador continuará se mantendo informado sobre a evolução do quadro do PSB, onde Ricardo conta com o apoio decidido das deputadas Estelizabel Bezerra e Cida Ramos, entre outras expressões. O ingresso em outro partido facilitaria, ao mesmo tempo, a atuação do governador na campanha eleitoral do próximo ano, quando haverá pleito para prefeitos, vice-prefeitos e vereadores.
Por ordem de Azevêdo, assessores políticos de sua confiança estão monitorando os passos do imbróglio no PSB para ter uma radiografia mais exata de quem ficará com quem, depois do divisor de águas. O comportamento do presidente Carlos Siqueira também foi reprovado por outras lideranças do PSB, entre as quais o presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino, que nas últimas horas confirmou pretensão de se desligar da órbita do PSB. O presidente da Assembleia acha que em determinado momento houve espaço para uma conciliação interna, mas a chance foi desperdiçada diante do radicalismo de outros integrantes dos quadros do PSB no Estado.
Nonato Guedes