Ainda que não fale pelo conjunto do partido, que está dividido sobre o “racha” no PSB entre o ex-governador Ricardo Coutinho e o governador João Azevêdo, o presidente estadual do PT, Jackson Macêdo, foi autêntico ao declarar a uma emissora de rádio que sua preferência é pela candidatura de Ricardo a prefeito de João Pessoa no próximo ano como representante do chamado “campo progressista”, que em tese aglutina forças de esquerda que se opõem visceralmente ao governo do presidente Jair Messias Bolsonaro. A fala de Macêdo é coerente com a política de reaproximação que Ricardo cultivou em relação ao Partido dos Trabalhadores, no qual iniciou trajetória política e do qual bateu em retirada justamente porque foi-lhe negado o direito de concorrer à prefeitura da Capital em 2004.
Esse posicionamento do dirigente petista é ilustrativo da dinâmica que se observa na conjuntura política paraibana, de uns anos para cá. Ricardo pulou do galho onde se segurou por um tempo com o tucano Cássio Cunha Lima e protagonizou uma volta às origens, abstraindo divergências que tinham sido aprofundadas com o petismo. Exemplos da recaída ideológica-partidária de Coutinho foram os gestos, ainda como governador, trazendo Dilma Rousseff à Paraíba para denunciar a narrativa do “golpe” traduzida no seu impeachment pela Câmara dos Deputados, solidarizando-se com ela integralmente. Outro gesto de Ricardo que chamou a atenção foi o de trazer os ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff para assistirem à chegada das águas da transposição do rio São Francisco. Enquanto prestigiava, sobretudo, Lula, a quem deu o crédito pela obra redentora para o Nordeste, Ricardo dedicava atenção meramente protocolar a Michel Temer, investido na presidência da República. E teve o topete, no palanque oficial, de enaltecer Lula na frente de Temer, deixando este obviamente constrangido.
Como que cumprindo uma agenda calculada, o então governador Ricardo Coutinho tomou-se de indignação com o episódio da condenação, seguida de prisão, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ambas decretadas pelo ex-juiz Sergio Moro, agraciado, no governo Bolsonaro, com o ministério da Justiça, onde tem colecionado mais dores de cabeça do que satisfações, estando, praticamente, como um zumbi dentro do governo federal, pela falta de prestígio e pelo bambolê sobre sua permanência ou não no ministério, estimulado pelo próprio capitão reformado. Coutinho chegou ao ponto de tentar uma primeira visita a Lula na Superintendência da PF em Curitiba, tendo sido barrado por ordem judicial, da lavra da doutora Lesbos, discípula de Sergio Moro. Na segunda tentativa, logrou ser recebido por Lula e com ele dialogar sobre a eleição presidencial de 2018, em que se alinhou ostensivamente com a candidatura de Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores.
Os gestos de Ricardo Coutinho calaram fundo na militância e na cúpula do PT e facilitaram a sua reabilitação perante o partido como um aliado confiável e intimorato, espécie de filho pródigo que retornava ao aprisco, ainda que batalhando em outro “front”, o do PSB, no qual tenta firmar hegemonia contra o governador João Azevêdo, por ele lançado do bolso do colete e ungido em primeiro turno, mas que se tornou ultimamente um irresignado diante das ordens emanadas de Ricardo Coutinho. O dilema que ainda acomete o PT paraibano, no posicionamento dentro da conjuntura local, decorre do fato de que há petistas, como o ex-deputado Luiz Couto, ocupando secretaria na administração de Azevêdo. Essa circunstância cria um cenário ambíguo para os petistas provincianos, porque, de certa forma, o sucessor de Ricardo, que com ele anda arreliado, não está fazendo pacto com o Diabo em política e ainda por cima valoriza quadros petistas decaídos nas urnas, como Luiz Couto e Anísio Maia.
A manifestação de simpatia pela candidatura de Ricardo a prefeito de João Pessoa no próximo ano origina-se, no PT, da gratidão ao ex-militante em momentos difíceis que o Partido dos Trabalhadores tem enfrentado, com Lula preso, Dilma impichada e Haddad derrotado nas urnas pelo outrora suposto outsider da política, Jair Bolsonaro, expressão maior da direita raivosa na atmosfera institucional do país. Essa simpatia coincide com o desmonte verificado nas fileiras petistas a nível nacional e com a falta de perspectiva de poder que chegou a colocar lulopetistas em estado de prostração, como se a legenda estivesse contaminada por uma maldição irreversível. No cenário de candidaturas a prefeito de João Pessoa, é temerário, inclusive, para o PT, apostar numa candidatura própria, diante da falta de estrutura, de recursos e do próprio desgaste experimentado junto à opinião pública por causa dos pecados éticos que foram cometidos na passagem pelo purgatório da legenda. Uma candidatura de Ricardo Coutinho é um presente dos céus para o debilitado PT pessoense e paraibano. Por isso é que todas as fichas vão ser concentradas nele, com a única ressalva de que será preciso esperar o desfecho do desaguisado nas hostes do Partido Socialista da Paraíba.
Nonato Guedes