Desde a manhã de hoje a Polícia Federal empreende operação nas instalações do Congresso Nacional tendo como alvo Fernando Bezerra, do MDB-PE, líder do governo Bolsonaro no Senado e ex-ministro da Integração Nacional do governo de Dilma Rousseff (PT). Em foco, o desvio de recursos envolvendo obras do projeto de transposição de águas do rio São Francisco em Estados nordestinos e empreiteiras. O colunista Leonardo Sakamoto, do UOL, lembrou que representantes de movimentos sociais alertaram para os riscos de corrupção nas obras da transposição, mas não foram ouvidos nos sucessivos governos.
Diz Sakamoto: Representantes de povos indígenas e quilombolas, pescadores e ribeirinhos, a Articulação do Semiárido, o Movimento dos Atingidos por Barragens, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, a Comissão Pastoral da Terra, entre outros tantos, participaram dos protestos contra o projeto de transposição e avisaram que os danos ao meio, às pessoas e às contas públicas não compensariam. O Brasil não lembra dos milhares de manifestantes acampados em Cabrobó, em Pernambuco, e dos grandes encontros populares da Bahia organizados para discutir a convivência das comunidades ao Semiárido. Muito menos das reclamações dos movimentos de que a transposição iria beneficiar prioritariamente as grandes empresas que contam com fazendas de irrigação em detrimento aos pequenos, acentuando o conflito pela água. É importantíssima a apuração de denúncias que envolvem o uso tanto da transposição do São Francisco quanto da usina de Belo Monte para o enriquecimento de políticos e empreiteiras e o financiamento de campanhas dos mais diferentes partidos.
O senador Fernando Bezerra Coelho e seu filho, o deputado federal Fernando Coelho Filho (DEM-PE) teriam recebido pelo menos R$ 5,5 milhões em propina, segundo já apontam as investigações. Bezerra Coelho informou que colocou o cargo de líder do governo do presidente Jair Bolsonaro à disposição. A operação de hoje, batizada de Desintegração, investiga suspeitas de pagamento de propinas ao senador e seu filho, relacionadas à época em que Bezerra Coelho era ministro da Integração na gestão Dilma. Segundo delatores ouvidos no inquérito, os pagamentos de propinas envolvendo obras da transposição foram feitos entre 2012 e 2014 por quatro empreiteiras, entre elas a construtora OAS. Hoje foram realizadas operações de busca ee apreensão em gabinetes no Congresso Nacional ligados ao senador. Ao todo, a PF cumpriu 52 mandados de busca e apreensão envolvendo endereços ligados aos parlamentares e empreiteiras investigadas. A operação foi autorizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal. O advogado do senador, André Callegari, estranhou a adoção de medidas cautelares em razão de fatos pretéritos que não guardam qualquer razão de contemporaneidade com o objeto da investigação.
Da Redação, com agências