Quase diariamente, deputados e políticos ligados ao governador João Azevêdo e ao ex-governador Ricardo Coutinho trocam farpas, mandam recados, acusam-se mutuamente pela crise enfrentada nas hostes do Partido Socialista da Paraíba, cujo diretório regional foi alvo de dissolução, dando lugar a uma comissão provisória, afastando-se o então presidente Edivaldo Rosas. Em certas ocasiões, o próprio governador e o ex-governador assumem protagonismo na cena, acertando contas, distribuindo culpas, radicalizando a convivência. Essa autofagia se dá sob o olhar indiferente da cúpula nacional, presidida por Carlos Siqueira (PE), que não sinaliza qual rumo será tomado.
A maior indagação que se faz entre analistas políticos é sobre o desfecho que será impregnado à cisão nas hostes socialistas paraibanas. Mais precisamente: se haverá recomposição entre João Azevêdo e Ricardo Coutinho e, em caso negativo, quem realmente ficará na agremiação. O atual governador já deixou escapar que não tem pressa em decidir se fica ou se sai da agremiação. Argumenta que não é candidato nas eleições do próximo ano e que está focado, com prioridade, na execução do projeto administrativo, inclusive, concluindo obras e serviços que o antecessor lhe deixou. Ricardo Coutinho, por sua vez, domina o partido, tanto com ele na presidência estadual quanto, agora, com a deputada Estela Bezerra, de sua confiança, no diretório municipal em João Pessoa.
Ricardo busca se apresentar como o melhor intérprete da bandeira socialista na Paraíba, o mais qualificado para defender os princípios e filosofia do PSB e também o mais capacitado para comandar um processo de reestruturação da legenda, que implicará necessariamente na depuração de quadros, afetando, sobretudo, os que não seriam quimicamente socialistas. Nas opiniões do ex-governador, expressas em entrevistas ou em conversas com interlocutores da sua confiança, Azevêdo não tem perfil ideológico, caracterizando-se basicamente como um técnico, a quem faltaria, também, sensibilidade política, não obstante tenha sido testado e aprovado com louvor nas urnas, na disputa memorável de 2018, que foi liquidada no primeiro turno.
O governador João Azevêdo, por sua vez, além de realçar sua identificação com o ideário socialista, tanto assim que mantém fidelidade às linhas gerais da agremiação e, no plano político nacional, firma coerência tomando posição crítica em relação ao governo do presidente Jair Bolsonaro, em quem não votou nas últimas eleições, também se considera um neo-protagonista no cenário político, não mais um neófito. Um exemplo do papel de destaque que estaria, paralelamente, assumindo, é o fato de que uma bancada expressiva de deputados estaduais lhe assegura apoio e, da mesma forma, segue a parceria com prefeitos, ampliada, agora, para gestores da oposição.
O PSB da Paraíba conta com cerca de 58 administradores municipais e um total de 399 vereadores, muitos dos quais são candidatos à reeleição no próximo ano. O governador João Azevêdo, de olho nesse potencial relevante, estreita relações, faz-se sensível a demandas ou reivindicações, acena com obras e serviços que sejam indispensáveis ao desenvolvimento das comunidades interioranas. Ele conhece muito bem o grau de dependência das cidades em relação ao Estado, da mesma forma como o Estado depende da União, ainda que não umbilicalmente, já que detém fontes próprias de receitas, o que lhe dá um alívio para manter o feijão-com-arroz da rotina administrativa. Em última análise, a Federação continua sendo uma miragem neste País.
A ideia que se tem nos bastidores políticos é a de que os grupos do governador João Azevêdo e do ex-governador Ricardo Coutinho estão se testando no metro quadrado estreito do PSB paraibano. Ou seja, avaliam a quantidade dos exércitos que lhe são fiéis e que estão disponíveis para qualquer confronto, qualquer batalha que surja no horizonte. Do lado do ex-governador Ricardo Coutinho, a previsão, feita pela deputada Estela Bezerra, é de que ainda poderá haver baixas no partido, não tendo ficado clara a procedência dessas defecções. Enquanto isso, a cúpula nacional do PSB, vale repetir, age como se nada de grave estivesse acontecendo. Fica dando milho aos pombos enquanto acentuam-se as labaredas da mais séria fissura já enfrentada numa seção como a da Paraíba, que estava em franco processo de expansionismo, com representação valorosa, por exemplo, na Assembleia Legislativa e contando com um senador e um deputado federal. Não é temerário insinuar que, a esta altura, na esfera do PSB paraibano pode acontecer tudo, inclusive, nada…
Nonato Guedes