Embora tenha sido preterido pelo então governador Ricardo Coutinho como candidato à sua sucessão em 2018, o deputado federal Gervásio Maia não esconde o seu estreito alinhamento com o ex-gestor na briga que este trava com o governador João Azevêdo pelo controle do Partido Socialista Brasileiro no Estado, cuja comissão provisória RC preside, após a dissolução do diretório regional e a destituição do Secretário de Governo Edvaldo Rosas do comando da legenda. Gervásio acompanha eventos nos quais Ricardo esteja presente, como, ainda nos últimos dias, um certame cultural na cidade do Conde, administrada pela prefeita Márcia Lucena. Não tem sido visto acompanhando o governador João Azevêdo em reuniões ministeriais ou de bancada em Brasília para trato de pleitos administrativos.
Há afinidades entre Gervásio e Ricardo. O pai do deputado federal, Gervásio Bonavides Maia, já falecido, que foi presidente da Assembleia Legislativa e candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Roberto Paulino (PMDB), em 2002, derrotada por Cássio Cunha Lima-Lauremília Lucena (PSDB), foi secretário de Finanças de Coutinho quando este exerceu um dos mandatos de prefeito de João Pessoa. Gervásio tinha a confiança irrestrita do então alcaide e, conforme a crônica política, detinha a chave do cofre, com plenos poderes para agir como xerife das finanças municipais, tendo oferecido contribuição valiosa para o equilíbrio da receita e despesa no começo dos anos 2000.
Gervásio Filho (ou Gervasinho, como também é chamado) teve irrestrito apoio do governador Ricardo Coutinho para eleger-se presidente da Assembleia Legislativa do Estado, posto em que firmou as bases para se eleger deputado federal, retomando uma praxe que havia sido interrompida no histórico da Casa de Epitácio Pessoa. Único representante do PSB paraibano na Câmara e o primeiro eleito pela agremiação nas últimas décadas no Estado, Gervásio Filho movimentou-se para viabilizar sua candidatura ao governo em 2018, apresentando-se como neto de um dos mais dinâmicos governadores do Estado João Agripino, que derrotou Ruy Carneiro no pleito de 1965 e cumpriu mandato até meados de 1971, legando obras marcantes como o Hotel Tambaú, em João Pessoa, e a BR-230, interligando a Capital ao Sertão. João ganhou respeito, também, pela seriedade de posições e pela altivez demonstrada, discordando de atos do regime militar instaurado em 64, embora fosse citado na imprensa como vice-rei da revolução no Nordeste.
Empolgado com o legado do avô e com o prestígio junto a Ricardo Coutinho, Gervásio Maia fez inúmeras sondagens sobre a possibilidade de vir a ser ungido candidato à sucessão no ano passado. O passo mais decisivo foi o de migrar do ex-PMDB, hoje MDB, onde não tinha espaços, para o PSB, atendendo a um convite pessoal de Coutinho. O desenrolar do processo político, entretanto, aliado a outros fatores, fez com que Ricardo optasse por lançar a candidatura do engenheiro João Azevêdo, neófito em política, mas até então afinado com sua liderança, para disputar o Palácio da Redenção. Obstinou-se tanto pela vitória do sucessor que abriu mão de disputar uma vaga ao Senado, para a qual, em tese, era favorito, e resolveu permanecer no exercício do governo até o último dia do mandato, a 31 de dezembro. Em compensação, Azevêdo foi eleito em primeiro turno, o PSB ampliou a bancada de deputados estaduais, elegeu Gervásio Maia à Câmara e Veneziano Vital do Rêgo, oriundo do PMDB-MDB a uma das duas vagas de senador em disputa.
Gervásio procurou estruturar a campanha à Câmara Federal de modo a ter uma distribuição espacial de votos pelo Estado, o que o fez ser votado em Cajazeiras, no extremo-oeste, embora sua base maior esteja fincada em Catolé do Rocha e na chamada micro-região 89. Obteve uma votação expressiva e é um dos interlocutores preferidos do ex-governador Ricardo Coutinho, cuja candidatura, novamente, a prefeito de João Pessoa, no próximo ano, Maia defende. O argumento de Gervásio para o lançamento de Ricardo à sucessão de Luciano Cartaxo (PV): Ricardo foi um grande prefeito, e da nossa geração foi o melhor, assim como o melhor governador. Alguém pode perguntar pelo meu avô, João Agripino, mas na época dele, ele também foi o melhor, e revolucionou a Paraíba. Mas, entre os gestores das últimas décadas, quem se sobressaiu foi Ricardo. A respeito da atual crise nas hostes do PSB paraibano, Gervásio Maia criticou os que chama de babões do governo atual, que são especialistas, a seu ver, em leva e traz, com o intuito de promover a discórdia no partido e assegurar benefícios em proveito pessoal. Ele não chega, porém, a mencionar nomes.
Nonato Guedes