O presidente Jair Bolsonaro pronunciou um discurso polêmico, hoje, em Nova Iorque, na abertura da septuagésima quarta Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, defendendo a soberania do Brasil sobre a Amazônia, criticando países como a França que estariam interessados em deter monopólio daquela área e atacando setores da mídia que, conforme ele, propagam versões sensacionalistas sobre a realidade das queimadas na floresta brasileira. O discurso gerou controvérsias e foi criticado, no Brasil, por expoentes do ambientalismo. Bolsonaro leu uma carta do “Grupo de Agricultores Indígenas do Brasil” em apoio à indígena bolsonarista Ysani Kalapalo e finalizou dizendo que “acabou o monopólio do senhor Raoni”, referindo-se ao cacique Raoni Mektutire, líder indígena brasileiro do povo caiapó.
“A visão de um líder indígena não representa a visão de todos”, pontuou Bolsonaro, mencionando a presença de Ysani Kalapalo em sua comitiva. Ela é indígena da aldeia Tehuhungu, do Mato Grosso, e foi apoiadora de Bolsonaro desde a campanha eleitoral. É conhecida por ter assumido a culpa, em nome dos indígenas, pelas queimadas na Amazônia. Em mais de 30 minutos de sua fala, o presidente também destinou parte do tempo para criticar a imprensa internacional pela publicação do que classificou como “informações sensacionalistas” sobre os incêndios na Amazônia e disse que “é falácia” afirmar que a floresta é patrimônio da humanidade. Bolsonaro ainda disse que as ONGs tratam índios como “homens das cavernas” e que “índio não quer ser pobre em cima de terra rica”.
Em seguida, o presidente da República defendeu a exploração das reservas indígenas, citando como exemplo as terras ianomâmi e raposa Serra do Sol. “Grande parte das comunidades indígenas têm ouro, diamante, nióbio, entre outras riquezas. Esses territórios são enormes (…) Não estão preocupados com o ser humano índio”. Bolsonaro também exaltou o golpe de 1964 e acusou a “ditadura cubana” de ter trazido ao Brasil médicos sem comprovação de habilitação profissional. No Congresso brasileiro, conforme o site “Revista Fórum”, parlamentares ficaram surpresos, pois esperavam um discurso mais conciliatório. Antes que os 30 minutos de discurso na Assembleia Geral da ONU terminassem, a internet já estava dominada pela hastag #BolsonaroEnvergongaoBrasil na manhã de hoje. Enquanto o presidente expunha mensagens de cunho ideológico que marcaram sua fala, congressistas e políticos de diferentes correntes se revezaram nas redes sociais para demonstrar contrariedade ao posicionamento apresentado na organização intergovernamental.
O vice-presidente nacional do PT, Paulo Teixeira (SP), comentou que a “saia-justa” diplomática com Cuba, cuja delegação retirou-se da assembleia após o presidente brasileiro afirmar que os médicos que integravam o programa “Mais Médicos” seriam infiltrados, gerou mal-estar na ONU. “Após Bolsonaro atacar Cuba dizendo em discurso que os médicos do programa Mais Médicos não tinham comprovação de habilitação profissional nenhuma e eram escravizados, a delegação cubana deixou o parlamento da ONU”, lamentou. “Vergonha absoluta! Um presidente estúpido é o que temos. Presidente Jair Bolsonaro desperdiçou excelente oportunidade de falar sobre o Brasil para o mundo. Se ateve, ao contrário, a seus recalques ideológicos, preconceitos e boçalidades políticas. Também aproveitou para mentir”, opinou o vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry (MA). A deputada federal pelo PSOL Sâmia Bonfim afirmou que Bolsonaro usou a tribuna da ONU para atacar ONGs, cientistas, ativistas dos direitos humanos e a própria burocracia brasileira. “Agressivo, negou o inegável a respeito do desmatamento da Amazônia. Chegou a dizer que os indígenas também fazem queimadas”. A ex-candidata a vice-presidente da República pelo PSOL, ex-deputada federal Manoela D’Avila (RS) usou seu perfil para apontar o retrocesso no tom adotado por Bolsonaro. O senador Randolfe Rodrigues, do PSOL-AP, qualificou como “vergonhoso” o discurso de Bolsonaro. “O Brasil nunca passou tanta vergonha na ONU”, expressou.