O ex-presidente Lula da Silva, naturalmente, fica comovido e é bastante grato aos que ecoam, aqui e acolá, entre um show de Caetano ou Chico, o refrão “Lula Livre”. Aparentemente é uma palavra de ordem gritada por combustão espontânea nas plateias de shows, sem ensaio combinado entre lulopetistas ou simplesmente anti-bolsonaristas, que querem mesmo é protestar contra o governo que está aí e descarregam a tensão em eventos com público qualificado, bastante seletivo. Tenho me alternado em shows de artistas que idolatram Lula, entre João Pessoa e Recife. O “script” é imutável, o que me fez supor, no princípio, que havia orquestração partidária. Hoje, tenho dúvidas sobre isso.
Refiro-me a essas manifestações graças a uma ilação que está se cristalizando na minha cabeça: a de que o ex-presidente Lula não quer receber, barato, o troféu da sua soltura. Basta citar o mais recente e emblemático exemplo: a contagem das penas aplicadas ao ex-mandatário. Somadas, as penas cominadas, que não vão além de uma condenação que já dura um ano e pouco, possibilitariam, na concepção de juristas que entendem do “riscado”, um pedido de Lula em prol do reconhecimento da progressão de sua condenação. Lula não quer saber disso. Já houve, nos bastidores, ensaios de acordos para redução do período condenatório – Lula fez ouvidos de mercador a todos esses balões.
Ultimamente ele se tornou o presidiário mais entrevistado, tanto pela imprensa brasileira como pela mídia estrangeira. E o que diz Lula, nas entrelinhas de suas alocuções? Basicamente ele repete que é inocente, que é um preso político e quer que o Judiciário reconheça esse “status”. Para quem acha que isso é uma mera questão semântica, convém esclarecer que, sendo reconhecido como preso político, Lula conseguirá dissociar sua imagem da pecha de corrupto, que é, na verdade, o motor das condenações imputadas e da pena de prisão que ele cumpre na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Lula quer sair da cela consagrado, nos braços do povo, como estratégia sagaz para pavimentar uma acalentada volta à presidência da República.
Um outro aspecto que precisa ser levado em conta, na análise tanto quanto possível isenta de paixões sobre os fatos que envolvem a personalidade do líder petista, é que Lula já goza do “status” de preso especial. Ele é mantido numa cela, com direito a pequenas mordomias, como aparelho de TV, um cômodo que funciona como espécie de gabinete para escritos e outras anotações. É mantido à distância providencial dos chamados “presos comuns”. Como apenado, custa uma fábula ao erário, todo dia, mas isso parece ser o de menos, na geleia geral das avaliações sobre a sua figura. A defesa de Lula já conseguiu interceptar uma ameaça de transferência para o presídio do Tremembé, onde estão hospedadas figuras de alta periculosidade, como Alexandre Nardoni e Suzana Von Richtofeen, acusados de homicídios contra os próprios familiares.
Tem mais: não se passa um dia sem que algum expoente do Partido dos Trabalhadores venha a público prognosticar que o ex-presidente da República está próximo de sair da cela que ocupa, dotada, ainda, de aparelho de ginástica e decorada com pen-drives que permitem a Lula assistir jogos de campeonatos brasileiros e dar vazão à sua torcida pelo futebol, que é uma paixão inata nele. De onde sai essa conclusão de que Lula está a um passo da liberdade? Não há documento ou manifestação oficial sinalizando com essa probabilidade. Em tese, está-se diante de um mistério, mas o que há é a convicção do PT e do próprio Lula de que os processos contra ele estão eivados de falhas graves e, em sendo assim, há casos que precisam ser revistos com urgência.
Como corolário dessas previsões triunfalistas, há sinais de “fumaça branca” que estariam sendo emitidos com certa frequência pelos ministros que compõem o plenário do Supremo Tribunal Federal, onde, em outros julgamentos, petistas ilustres foram condenados inapelavelmente, especialmente no caso do mensalão. Há quem considere o ex-presidente Lula da Silva uma espécie de prestidigitador. Os que assim opinam exemplificam com a não inclusão, de forma mais comprometedora, do líder petista no caso do mensalão, o “ponto fora da curva”, na expressão de um magistrado que ainda enverga a toga. Sobre o mensalão, aliás, sabemos todos, Lula da Silva sempre jurou de pés juntos que não sabia de nada, que não tinha o mínimo conhecimento do que se passava nos subterrâneos do poder e nas entranhas do partido. Enfim, Lula já usa aliança de noivado, o que é mais um indício da sua preparação para voltar à rotina, como um político que pede votos. Mesmo com a maré a seu favor, Lula instrui os emissários de confiança a recomendarem que não cesse o movimento pelo “Lula Livre”. Afinal, nunca se sabe, mesmo, o que vai acontecer amanhã. Lula é o tipo do preso que “bota banca”. Não é para qualquer um….
Nonato Guedes
O melhor texto da Imorensa Paraibana.