No dia 29 de setembro de 1992, a Câmara dos Deputados instalou em Brasília o processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, com 441 votos a favor, 38 contra, 1 abstenção e vinte e três ausências. Collor, primeiro presidente eleito pelo voto direto no ocaso do regime militar que fora implantado em 1964 no Brasil, caiu em meio a denúncias de corrupção entre altos funcionários, ministros e o próprio presidente, feitas por Pedro Collor, irmão do mandatário. As acusações sobre corrupção apontavam para um esquema liderado pelo homem de confiança do presidente e seu ex-tesoureiro de campanha eleitoral Paulo César Cavalcante Farias, o PC Farias. Num primeiro momento, as denúncias motivaram a instalação no Congresso de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a situação em 26 de maio de 92. As investigações e novas revelações da imprensa acuaram o governo.
No dia 14 de agosto, Collor conclamou a população a vestir-se de verde e amarelo para mostrar patriotismo e repudiar supostas manobras para derrubá-lo do Palácio do Planalto. Mas, em 16 de agosto, milhares de estudantes saíram às ruas das capitais, vestidos de preto e com as caras pintadas. Foi a origem do movimento Fora Collor, que ganhou cada vez mais corpo. Para evitar a perda dos direitos políticos, Fernando Collor renunciou três dias depois da instauração do processo de impeachment. Mas a Câmara manteve o processo e tornou o ex-presidente inelegível por oito anos. No Senado, o relator do processo de impeachment foi o senador paraibano Antônio Mariz (PMDB), já falecido, que elaborou circunstanciado documento atestando a culpa de Collor em atos ilícitos e referendando como legítimo o impedimento do presidente.
Impedido por oito anos de disputar eleições, Fernando Collor permaneceu por longo tempo nos Estados Unidos. Tentou disputar as eleições para prefeito da cidade de São Paulo, pelo PRTB, em 2000, mas foi barrado pela Justiça Eleitoral. Disputou as eleições para governador de Alagoas em 2002 e foi eleito senador em 2006. Manteve a atividade empresarial no ramo de comunicação e o exercício do mandato de senador pelo Estado de Alagoas, tendo sido um dos políticos citados na Operação Lava-Jato. Em 1989, quando disputou a presidência, Collor derrotou vinte candidatos no primeiro turno, entre os quais Ulysses Guimarães, Leonel Brizola e Mário Covas. Foi para o segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva, deputado federal pelo PT e notabilizado pela sua liderança no movimento sindical na região do ABC paulista, onde liderou greves de metalúrgicos. Collor foi eleito com 35.089.998 votos contra 31.076.364 de Lula.
Collor foi candidato em 89 pelo PRN – Partido da Reconstrução Nacional e, um dia após assumir o governo, em 15 de março de 1990, decretou o confisco de todas as contas correntes e de poupança com valores superiores a 50 dólares. Idealizado pela ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, o Plano Collor determinava a extinção do cruzeiro, a venda de empresas públicas, a demissão de milhares de funcionários públicos, a extinção de ministérios, autarquias e fundações e a redução de restrições à importação. O objetivo principal era enxugar a liquidez e combater a inflação. Um ano e meio depois, o dinheiro confiscado começou a ser devolvido, o Plano Collor não atingiu suas finalidades, a inflação voltou e a economia entrou em recessão. Na campanha, o candidato foi apresentado como “caçador de marajás”.
Nonato Guedes