No livro “Nada Menos que Tudo”, escrito pelos jornalistas Jailton de Carvalho e Guilherme Evelin, em que narra episódios desconhecidos ao longo dos quatro anos em que esteve à frente das investigações do maior escândalo político do país, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, chefe da operação Lava-Jato em Brasília, afirma que se não fosse a referida operação talvez Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara Federal, fosse hoje presidente da República. “Faço uma constatação de que o então presidente da Câmara, com a força extraordinária que tinha, com uma base de 150 a 170 deputados e com um sistema abastecendo-o de dinheiro de corrupção, teria grandes chances de ser eleito presidente”, ressalta. Janot diz que não faz a avaliação de quem seria o melhor e quem seria o pior, mas opina que Jair Bolsonaro “é um produto da queda do próprio Cunha”. Informou, então, que no início de 2015 sua casa foi invadida e só levaram um controle remoto do portão. “Era um recado, uma ameaça. Pelo cheiro, suspeito que foi obra do Eduardo Cunha. Não há evidência. É pelo cheiro mesmo”.
O livro, que está sendo lançado esta semana, ganhou repercussão a partir de capítulos antecipados por Janot a órgãos de imprensa como a revista “Veja” e o jornal “O Estado de São Paulo”. A revelação mais bombástica de Janot foi a de que ia atirar no ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, e em seguida suicidar-se. Janot revelou que no dia 11 de maio de 2017 foi a uma sessão do Supremo Tribunal Federal decidido a executar Gilmar, com quem vivia trocando alfinetadas. Naquele período, o embate começou a entrar em ebulição, como lembra “Veja”, quando Janot pediu ao STF que impedisse Mendes de atuar em um processo que envolvia o empresário Eike Batista. O procurador alegou que a esposa do ministro,Guiomar Mendes, trabalhava no mesmo escritório de advocacia que defendia Eike. Na sequência, foram publicadas notícias de que a filha de Janot era advogada de empreiteiras envolvidas na Lava Jato, o que, por analogia, também colocaria o pai na condição de suspeito. O procurador identificou Mendes como origem da informação – e, nesse instante, decidiu matá-lo.
No livro, Janot narra, também, casos de comportamentos indecorosos, como o de um pedido de Michel Temer e seus aliados para que o procurador não investigasse o então deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e de uma bisonha tentativa de cooptação, quando o então senador Aécio Neves (PSDB), em meio ao escândalo e já na condição de investigado, teve a desfaçatez de convidar Janot para compor com ele uma chapa a fim de disputar a eleição presidencial de 2018. Há, também, situações de sabotagem, traição, desconfiança, intrigas e suspeitas entre os próprios membros da força-tarefa da operação Lava Jato. A respeito do convite de Aécio, Janot diz que inicialmente a oferta foi para ele ser ministro da Justiça de um virtual governo do tucano. Dias depois, Aécio voltou a ele e fez outra proposta: “Quero pedir desculpa. O convite não estava à sua altura. Eu acho que você podia ser o meu vice-presidente. Você escolhe qualquer partido da base, filia-se e vai ser o meu vice-presidente”. É óbvio que era uma tentativa de cooptação”, narra Janot.
De acordo com Rodrigo Janot, com o cerco se fechando sobre os políticos, ele recebeu vários agrados – de convites para renovar o mandato de procurador a uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal. A mais inusitada oferta, entretanto, partiu do então senador Aécio Neves, pelo fato de que ele estava sendo investigado por recebimento de propina. Janot contou, ainda, que o ex-presidente Fernando Collor, denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro em 2015, virou a sua vida pelo avesso. Quando foi sabatinado no Congresso, Collor ficou na frente de Janot, repetindo: “F.D.P>”, “F.D.P”. O ex-procurador diz não ter dúvidas de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é corrupto. “É impossível que o Lula não fosse um dos chefes de todo esse esquema. Não tenho dúvida de que ele é corrupto, da mesma forma como não tenho nenhuma dúvida de que a Dilma Rousseff não é corrupta. Mas ela tentou atrapalhar as investigações com a história de nomear Lula ministro da Casa Civil”.
Nonato Guedes, com informações da “Veja”