A despeito de sofrer bombardeio dos adversários por sua atuação, que não teria sido imparcial, à frente da Lava Jato, operação que comandou quando atuava em Curitiba, no Paraná, o ministro da Justiça, Sergio Moro, mantém-se em alta nas cogitações para a disputa presidencial na sucessão do seu chefe, Jair Bolsonaro (PSL), que, teoricamente, deverá postular a reeleição em 2022. Nos meios políticos já se prevê um confronto, nas urnas, entre Sergio Moro e o governador de São Paulo, João Doria, do PSDB, que cada vez mais expande seus domínios dentro da legenda e busca costurar alianças que viabilizem um projeto de candidatura ao Planalto.
Uma recente pesquisa do instituto Datafolha demonstrou que a aprovação do ministro Sergio Moro em agosto era de 51%, enquanto a do presidente Jair Bolsonaro situava-se em 29%. Segundo a revista “Veja”, desde que trocou a magistratura pela política, o ministro é encarado como um potencial candidato à Presidência e monitorado por grupos diversos, incluindo os donos do dinheiro. Um grupo de empresários e banqueiros encomendou recentemente a uma agência uma pesquisa sobre a sucessão presidencial. Resultado: Moro aparece em primeiro lugar, com 34%, seguido de Bolsonaro, com 21%. Foram ouvidas 2 000 pessoas.
A impressão dominante nos últimos meses foi a de que Sergio Moro teve seu prestígio como juiz arranhado pelas revelações de que agiu de forma ilegal à frente da Lava Jato. Mesmo assim, continua forte como político. E por isso passou de pedra a vidraça. Usando como pretexto a operação da PF no gabinete da liderança do governo, deputados e senadores derrubaram uma série de vetos de Bolsonaro ao projeto de lei de abuso de autoridade. No Planalto, entre gabinetes muito próximos a Bolsonaro, argumenta-se que a derrota dos vetos não lhe tira o sono, porque teria sido imposta, diretamente, ao lavajatismo – atingindo, preferencialmente, o ministro Sergio Moro, pela atuação ostensiva, autonomista até, que desempenhou à frente da Operação e pela responsabilidade que assumiu de decretar a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, temia-se que houvesse uma comoção nacional pela prisão de Lula, mas as reações ficaram restritas, mesmo, a grupos lulopetistas e a expoentes de forças de esquerda ou de oposição a Jair Bolsonaro.
No Partido dos Trabalhadores, continua valendo a máxima de que não fala em candidatura presidencial à sucessão de Bolsonaro sem que haja uma definição concreta sobre a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sempre foi o candidato preferencial do PT, só não se habilitando em 2018 devido ao impedimento do registro da candidatura pelo Tribunal Superior Eleitoral, o que o levou a ser substituído por Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação. A cúpula petista mantém-se na expectativa dos desdobramentos das decisões que o Supremo vai tomar sobre anulação, ou não, de medidas da Lava Jato, o que pode vir a beneficiar diretamente o ex-presidente que cumpre pena na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Nonato Guedes