Linaldo Guedes
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Censura ou não, a retirada de um quadro do artista Flávio Tavares da Sala de Concertos Radegundis Feitosa da Universidade Federal da Paraíba expõe, mais uma vez de forma risível, o descaso com que as instituições públicas tratam a obra de arte e seus artistas. E olha que não estamos falando do governo de Jair Bolsonaro, esse já useiro e vezeiro nesse tipo de atitude. Estamos falando da UFPB, instituição que sempre se pautou por uma postura de respeito aos nossos maiores valores, sejam artísticos ou humanitários.
Ontem, em seu perfil no Facebook, o artista comemorou um final feliz para o imbróglio. Segundo ele, em reunião com a reitora Margareth Diniz, Marcus Alves (Cultura) e membros do Conselho da UFPB, chegou-se a um acordo cordial e o quadro de sua autoria – intitulado A Bagaceira – será vizinho do painel de Waldemar José Solha, no hall do auditório da Reitoria. A promessa é de que a sala passará por uma restauração e nova iluminação para apresentar os painéis ao público.
É sempre assim. Depois que o leite é derramado, que a decisão tomada gera repercussão negativa, as autoridades voltam atrás, diz que não fizeram o que foi feito, que foi engano de algum funcionário e anuncia a remediação do ato com a divulgação de melhorias para a situação. Mas não devia ser assim.
O painel “A Bagaceira” é uma pintura a óleo de grandes dimensões e foi criado em 2012 por Flávio Tavares. A inspiração veio do livro homônimo do escritor José Américo de Almeida, marco de instalação do regionalismo no Modernismo brasileiro em final dos anos 1920. No quadro, tem, ainda, recortes do Sertão e alusão ao documentário “Aruanda”, de Linduarte Noronha. Vejam que só aí estão três grandes referências nas artes paraibanas: o pintor (Flávio Tavares), o escritor (José Américo) e o cineasta (Linduarte Noronha, precursor do Cinema Novo e por ironia ex-professor da UFPB).
Os argumentos dos funcionários da instituição é que o painel tinha sido retirado por uma medida de proteção ao mesmo. Medo de que goteiras atingissem a obra de arte, disseram. Desmentiram categoricamente que a decisão tenha sido por motivação ideológica, e nesse ponto acredito neles. Para mim, foi descaso mesmo. Descaso e desprezo a arte paraibana. Acontece assim: alguém quer implantar uma reforma em determinado local de uma repartição ou instituição. Para mostrar serviço, entre outros motivos. Daí, chega numa sala, tem um painel enorme, olha para o funcionário de lado e diz: “Vamos tirar isso daqui, que atrapalha o que pretendemos fazer”. Assim, o quadro é deslocado para um local sem as mínimas condições de conservação da obra, enquanto se decide o que fazer. Enquanto isso, o quadro vai se deteriorando até desaparecer. Já vi muito isso nas repartições em que trabalhei.
O certo, claro, seria ou consertar as goteiras ou remover, de cara, o quadro para uma sala onde fosse valorizado. Mas na Universidade, onde atua as melhores cabeças pensantes da Paraíba, parece que ninguém quer pensar na hora de mostrar serviço para os superiores.
Linaldo Guedes é poeta, jornalista e editor. Com 11 livros publicados e textos em mais de trinta obras nos mais diversos gêneros, é membro da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal) e editor na Arribaçã Editora. Reside em Cajazeiras, Alto Sertão da Paraíba, e nasceu em 1968.
Não foi descaso, infelizmente. O autor da ordem para retirar a obra, diretor do lamusi, pressiona a reitoria para que a obra seja tirada da sala Radegundes. Caso não seja retirada ele deixa o cargo pois não quer que fique exposta para o público enquanto ele assumir a função. Acredito que o Flávio Tavares tenha feito algo contra esse cidadão, é algo pessoal. Somente isso justificaria essa raiva toda de um quadro magnífico como a bagaceira. Enfim, a obra será retirada e vão colocar em outro local com menos visibilidade e tudo será resolvido. Perdem a Paraíba e a arte brasileira.