Linaldo Guedes
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Desde seu primeiro disco – Aos Vivos – que Chico César vem se tornando uma das vozes mais consistentes da Música Popular Brasileira. Já lá se vão quase 25 anos, quando nos encantamos com canções como “À Primeira Vista”, “Templo”, “Mama África” e outras. Lembro que na época nos reuníamos em casa de amigos no Bancários, em João Pessoa, para curtir cheio de orgulho suas músicas, suas letras, sua voz.
Não tenho medo de dizer que Chico César é um artista completo. Poeta, na mais plena acepção do termo (tem livros do gênero publicados), é um dos melhores letristas da atualidade. Sua voz doce, que mal disfarça o sotaque nordestino, encanta desde a primeira audição. Lembro até que na época de seu início diziam que ele queria imitar Caetano Veloso cantando. Qual o que? Chico é Chico, ele mesmo, o artista catolaico com um pé no mundo e outro na Paraíba. E a música? Ah, sua música vai do romântico, ao pop, passando pelo reggae, jazz e outros gêneros sem a preocupação de se afirmar multiartista. Como se não bastasse todo esse talento reunido em uma única pessoa, ainda é um cidadão preocupado com os rumos do nosso país.
E na sua música exerce, sobretudo, sua linha artística, sem concessões até mesmo aos que gostam de sua arte. Vejam que depois de alguns anos atuando como gestor na Secretaria de Cultura da Paraíba, Chico retornou aos palcos e discos com “Estado de Poesia”, com odes e loas à sua musa. Agora, chega com outra agradável surpresa: “O amor é um ato revolucionário”, seu novo trabalho já disponível nas plataformas digitais.
Entre as faixas do álbum, “Pedrada”, “O amor é um ato revolucionário” e “History”, canções divulgadas nas redes sociais do artista.
Produzido por André Kbelo Sangiacomo e Chico César, com exceção das faixas History (produção de Márcio Arantes), Pedrada (produzida e arranjada por Eduardo Bid) e Eu Quero Quebrar (versão André Abujamra). O trabalho tem participações de Luiz Carlini, Agnes Nunes e Flaira Ferro.
Que belo título para um momento em que precisamos voltar a revolucionar nossos conceitos, a radicalizar o bem-querer, a tolerância e, sobretudo, a resgatar nossa autoestima e nossas conquistas que vão se perdendo como poeira nesse Brasil tão ultradireitista! O novo trabalho é definido como um comentário robusto de suas vivências político-sociais, no convulsionado momento brasileiro dos últimos anos.
Na apresentação do disco, o jornalista Zuza Homem de Mello escreve: “Eis agora a mais nova porção dessa obra, que cumpre o papel da música popular: guarda o propósito de refletir sua época. Não chega a ser uma facada. É uma pedrada, uma fotografia na lisura do preto e branco, a mesma que Sebastião Salgado prefere para suas imagens a fim de não acentuar cores que distraiam o foco pretendido. As músicas deste CD de Chico César se concentram como fotos realistas em preto-e-branco dos tempos em que vivemos, sem elementos que possam abstrair a intenção da mensagem. A universalidade da obra de Chico César se dá em todos os sentidos, da variedade rítmica à abordagem temática. Pode-se pois afirmar que, sem jamais renegar sua origem paraibana, ele não é cantor regional mas, sim, universal. Sua meta é interpelar”.
Que voltemos a ser revolucionários! Que nunca deixemos de ouvir Chico César!
Linaldo Guedes é poeta, jornalista e editor. Com 11 livros publicados e textos em mais de trinta obras nos mais diversos gêneros, é membro da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal) e editor na Arribaçã Editora. Reside em Cajazeiras, Alto Sertão da Paraíba, e nasceu em 1968.