O deputado federal e presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães (PMDB), morto há 27 anos após desaparecer em um acidente aéreo no litoral do Rio de Janeiro, volta aos holofotes do Congresso Nacional em meio a uma controvérsia. Com 1 metro e 80 centímetros, e pesando 110 quilos, uma estátua do “pai da Constituição Cidadã”, cujo nascimento completa 103 anos no próximo domingo, virou o centro de uma controvérsia. Integrantes do MDB querem instalá-la no Salão Verde, o principal e mais solene da Câmara, porta de entrada do plenário e local de incessante circulação nas terças e quartas-feiras. Mas a área técnica é contra.
Caberá ao atual presidente da Casa, Rodrigo Maia, do Democratas, arbitrar a disputa. Por causa do “imbróglio”, a imagem foi apelidada pelos servidores do Legislativo de “estátua da discórdia”. Conforme relatos feitos à “Folha”, o líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi, defende que ela seja exposta no Salão Verde. Maia concorda, mas, oficialmente, a Câmara diz não haver ainda uma decisão formal. A imagem do “Senhor Diretas” foi feita pelo artista plástico Clauberto Antônio dos Santos e mostra o político acenando ao horizonte. Ela foi entregue à Câmara na terça-feira pela Fundação Ulysses Guimarães, centro de estudos e pesquisas do MDB.
Em documento datado de setembro do ano passado, ao qual a “Folha” teve acesso, o presidente da Fundação, o ex-ministro Moreira Franco, disse que solicitou autorização para perpetuar a homenagem no Salão Verde. A mulher de Rodrigo Maia é enteada de Moreira Franco. O pedido, contudo, enfrenta resistência na área técnica, incluindo a diretoria-geral, que produziu um parecer contrário à colocação da imagem no espaço. O documento, baseado em análises patrimonial e de segurança, lembra que a resolução da Câmara, de número 32, de 1972, protege o edifício contra alterações que afetem a sua concepção arquitetônica ou comprometam a circulação de pessoas. O argumento é o de que a estátua apresenta uma incoerência artística com as demais obras de arte expostas no Salão Verde e que, em razão de suas dimensões, possa representar um risco à segurança, uma vez que o espaço já foi palco de protestos e manifestações.
Hoje, o local exibe, entre outras produções artísticas, o painel “Muro Escultórico”, de Athos Bulcão, a escultura de bronze “Anjo”, de Alfredo Ceschiatti, além do vitral “Araguaia”, de Mariana Perretti. A área técnica chegou a sugerir que a homenagem fosse feita no Anexo 2, onde há bustos e estátuas, ou até mesmo na chapelaria, principal acesso usado por senadores e deputados para ingressar no prédio do Congresso Nacional. Na próxima segunda-feira, Maia deve participar de sessão solene em celebração aos 103 anos do emedebista no plenário da Câmara, cujo nome oficial é, justamente, Plenário Ulysses Guimarães. A expectativa é de que a estátua seja instalada na semana que vem. A Fundação Ulysses Guimarães informou que não cabe a ela escolher o espaço de instalação e negou que tenha tratado do assunto com Maia. Na mesma linha, a liderança do MDB disse que não foi feito nenhum requerimento acerca do tema.