Entre 1998 e 2011, Fátima Bernardes apresentou o “Jornal Nacional”, da Rede Globo, do qual era também editora executiva. Dividiu bancada por muito tempo com o ex-marido William Bonner e deu adeus ao “JN” porque estava em busca de desafio e realização profissional. Passou, então, a apresentar o programa “Encontro com Fátima Bernardes”, uma espécie de revista, nas manhãs, de segunda a sexta-feira, com abordagem de temas diversificados e animação de cantores e outros artistas. “Meu último dia no JN foi difícil e emocionante, mas eu tinha muita convicção do que estava fazendo”, declarou Fátima em depoimento para o livro “JN – 50 Anos de Telejornalismo”.
Fátima diz que até Lillian Witte Fibe fazer o Jornal Nacional, ela não achava que uma mulher pudesse estar naquela bancada. A partir daí, pensou: “Posso almejar chegar lá”. Aconteceu em março de 1998. Ela vinha de um programa de variedades e jornalismo, o Fantástico, e foi convidada para apresentar o “Jornal Nacional”. Ao longo dos quase quatorze anos em que esteve na bancada, a função de apresentador mudou muito. “Quando vejo uma pessoa que está começando, conto a ela como era antes”, ressalta. Primeiro, para Fátima, ser jornalista é fundamental. E explica: “Existe um compromisso em saber do que estamos falando: ou você gosta da notícia e informação ou vai fazer outra coisa”. Fátima narra que procurou interagir com a elaboração do “JN”, aprovando reportagens que iriam ao ar e, depois, expondo-se na tela.
E prossegue: “Até 2005, quando acabava o Jornal Hoje, às 13h45, só voltava a ter jornalismo na Globo em rede nacional às 20h15. O Globo Notícia veio para dar conta do que acontecia nesse intervalo. Fiquei como editora-chefe desse pequeno jornal, que fechava com a ajuda dos editores do JN. Mesmo com o tempo apertado, conseguíamos dar, às vezes, dez assuntos na edição. Eu quase me sentia dizendo para o público que tinha acabado de ver a Sessão da Tarde e esperava Malhação. “Olha, é só um minutinho mas você precisa saber disso”. Quando o projeto do Globo Notícia estava começando, em abril de 2005, morreu o papa João Paulo Segundo. William Bonner estava de mala pronta, sabia que teria que viajar para Roma muito em breve. Ele embarcou na sexta-feira e chegou no sábado, dia da morte do papa. Na segunda, o projeto estreou, e chamamos o William por telefone, de dentro de um táxi em Roma. Uma grande estreia”.
E conclui Fátima Bernardes: “Meu último dia no “Jornal Nacional” foi difícil mas eu tinha muita convicção do que estava fazendo. Foram anos de avaliação de prós e contras, de conversas com a direção de Jornalismo, de horas e mais horas pensando em alternativas. Eu era feliz, mas me perguntava: “Será que daqui a dez anos ainda vou querer fazer a mesma coisa?”. Em 2011, fiz um projeto com as minhas intenções, sugerindo um programa no horário da manhã. Meses depois, a direção avaliou e aprovou o lançamento do Encontro para o ano seguinte. Carlos Henrique Schroder, na época diretor-geral de Jornalismo e Esporte, marcou minha saída para o dia 5 de dezembro de 2011. Foi uma edição emocionante. Dessa vez, eu era notícia e foi dolorido. Não me despedia só do Jornal Nacional. Era um adeus a 25 anos de jornalismo diário, uma interrupção na convivência com pessoas que via todos os dias, o abandono do prédio da Lopes Quintas, no Jardim Botânico, onde construí minha carreira e fiz amigos. Era o fim de um ciclo de vida que, felizmente, foi muito bem vivido”.
Fátima Bernardes faz parte do rol das Mulheres Brilhantes em todo o mundo. Ela cursou balé e interessou-se em tornar-se crítica do segmento, por isso estudou jornalismo. Estreou no jornal “O Globo” como repórter regional, fez curso de telejornalismo e desenvolveu uma carreira de sucesso. Esteve à frente dos principais telejornais da emissora e foi premiada por cinco vezes na categoria de Melhores do Ano. Fátima Gomes Bernardes nasceu em setembro de 1962 na cidade do Rio de Janeiro.
Em maio de 1989, ela assumiu a apresentação do Jornal da Globo em parceria com Eliakim Araújo. Em julho do mesmo ano dividiu a bancada com William Bonner, que viria, no ano seguinte, a se tornar seu marido. Passou a apresentar o Fantástico com Celso Freitas e Sandra Annemberg, depois com Pedro Bial. No Jornal Nacional, ganhou destaque na cobertura da emissora para a Copa do Mundo de Futebol como enviada especial. Uma de suas frases é emblemática da sua determinação: “Que bom que treinei o autocontrole. Senão daria vontade de deitar no chão e chorar”. Para ela, há dias em que o jornalismo registra fatos que, no futuro, serão contados nos livros e guardados por gerações. “Nesses dias, o que o jornalismo faz é escrever a história”, ensina Fátima Bernardes.
Nonato Guedes