Há políticos que lucram eleitoralmente quando protagonizam dissidências e rompimentos em partidos onde já não se sentem bem acomodados. Marcondes Gadelha, em 1982, e Veneziano Vital do Rêgo, em 2018, conquistaram cadeiras no Senado depois que abriram divergência no PMDB-MDB e migraram, respectivamente, para o PDS e para o PSB. Gadelha, que foi expoente do “grupo autêntico” do MDB em plena ditadura militar, reagiu à aproximação do PMDB com Antônio Mariz, seu adversário na cidade de Sousa e acabou assinando ficha no PDS, sucedâneo da Arena, abonada pelo general João Batista Figueiredo, último presidente do ciclo militar, e pelo governador da Paraíba, Tarcísio Burity. Ganhou, com reforço de sublegendas, a cadeira de senador, derrotando, como principal adversário, o ex-governador Pedro Gondim, que se projetara como líder populista na década de 1960.
Com a deserção de Marcondes das fileiras do PMDB, Antônio Mariz e o ex-governador João Agripino Filho ingressaram, com uma leva de seguidores, na agremiação, depois de uma breve passagem pelo PP, que Tancredo Neves e Magalhães Pinto criaram a nível nacional para fazer frente a casuísmos da ditadura. O PMDB ungiu Mariz candidato ao governo, preterindo Ronaldo Cunha Lima, que era portador da ficha 001 do partido. Mariz perdeu por 151 mil votos de diferença para Wilson Braga, candidato do PDS e líder popular no Estado, que vivia ascensão política com votações crescentes a deputado federal. O PMDB queixou-se que foi vítima de artifícios como o voto vinculado e da concorrência desleal das máquinas federal, estadual e municipal (em João Pessoa). Em 1990, Mariz deu o troco a Marcondes, elegendo-se senador pelo PMDB na única vaga em disputa e coroou sua carreira em alto estilo em 94, ascendendo ao governo do Estado e derrotando Lúcia Braga. Conspirou contra ele o estado de saúde – Mariz estava debilitado por um câncer no cólon e morreu em setembro de 1995 após via crúcis por hospitais de São Paulo e da Paraíba. Ainda houve tempo para Mariz promover uma reconciliação política com os Gadelha, convidando Marcondes para a secretaria de Agricultura. A indicação foi mantida por José Maranhão, que concorreu como vice e assumiu a titularidade com a morte de Mariz.
Em relação a Veneziano, ele foi bafejado dentro do PMDB com apoio para concorrer à prefeitura de Campina Grande, que exerceu por duas vezes em disputas acirradas, e para se firmar como deputado federal. Foi tolhido, porém, quando mirou a conquista de espaços maiores, a exemplo da primazia para ser candidato ao governo. O senador José Maranhão não acenou com perspectivas nesse campo, manobrando os cordéis para que o próprio JM fosse “eterno” candidato. Quando deputado federal, eleito em 2014, Veneziano ficou “desalinhado” dentro do partido ao votar contra a orientação da cúpula em matérias controversas na Câmara, tendo sido punido disciplinarmente, o que lhe valeu afastamento das instâncias partidárias de decisão. Foi “resgatado” providencialmente da situação incômoda pelo então governador Ricardo Coutinho, que o convidou a ingressar no PSB com a condição de disputar uma das cadeiras ao Senado. A obstinação de Ricardo era derrotar nas urnas o então senador Cássio Cunha Lima (PSDB), o que acabou ocorrendo, embora o candidato de Ricardo para a segunda vaga, Luiz Couto (PT) não tenha sido eleito, ficando o posto com a ex-deputada estadual Daniella Ribeiro, do PP.
Na conjuntura atual, em que o PSB paraibano enfrenta um racha sem precedentes, opondo o ex-governador Ricardo Coutinho ao sucessor João Azevêdo, Veneziano tenta equilibrar-se como “algodão entre cristais”, batalhando por uma reaproximação que ele sabe ser inviável. Todos os indícios asseguram, de antemão, o controle do partido por Ricardo Coutinho, ainda que com um tamanho menor, e apontam a porta de saída para Azevêdo, que pode acabar se compondo com adversários de Veneziano, como os Cunha Lima e o prefeito de Campina, Romero Rodrigues (este, no PSD). Veneziano tem, pela frente, sete anos e dois meses para decidir rumos partidários, o que lhe dá uma margem favorável entre os atores da cena local.
No que diz respeito a Marcondes Gadelha, manteve-se no exercício de mandato de deputado federal com dificuldades, ascendendo, às vezes, à titularidade, em virtude da condição de suplente. Chegou a lançar o filho, Leonardo, para a Câmara – mas acumulou revezes, tendo sido ele próprio, Marcondes, prejudicado na região sertaneja pela penetração de um candidato de protesto – o sapateiro conhecido como “Gobira”, da cidade de Cajazeiras, que bateu na trave para se eleger federal e acabou, mesmo, sangrando votos que pareciam destinados ao “clã” sousense remanescente da liderança do “coronel” José de Paiva Gadelha.
Nonato Guedes