Em sua coluna política no “Correio da Paraíba”, Sony Lacerda faz um interessante registro de bastidores sobre a passagem, ontem, por João Pessoa, do ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, general Luiz Eduardo Ramos, que superou divergências políticas e reuniu-se cordialmente com o governador João Azevêdo, adversário do presidente Jair Bolsonaro, e com quase uma centena de prefeitos de variegada extração política-partidária. Numa entrevista ao programa Correio Debate, da 98 FM, o ministro citou o quanto é doce o abacaxi paraibano, ao lembrar que já passou férias no Estado. “Encantado com as belezas naturais, disse que quase deserta quando servia ao Exército para poder aproveitar a vida entre os paraibanos e as praias do litoral Sul”, prossegue Sony Lacerda.
Mais tarde, durante encontro com o governador João Azevêdo, o general Ramos voltou a citar o abacaxi como a boa lembrança que guarda até hoje da Paraíba. E foi no meio da conversa sobre a fruta produzida em grande escala no nosso litoral que o ministro e o governador João Azevêdo tiveram uma tarde bem animada. “Primeiro – traduz Sony – pela simpatia do general Ramos, que tem se mostrado um hábil articulador político; segundo, foi uma tarde regada a histórias sobre as potencialidades do Estado e as possibilidades de investimentos do governo federal não só na Paraíba mas no Nordeste, e que devem chegar a R$ 4 bilhões em áreas como saúde, educação e infraestrutura”. A colunista enfatiza a atmosfera de amistosidade que predominou e, como resumo da ópera, informa que se enganou quem apostava em uma passagem turbulenta do ministro pela Paraíba. “A relação de cordialidade não poderia ter sido melhor”, arrematou Lacerda.
Foi o que relataram, também, políticos e auxiliares do governo de Azevêdo, que tiveram conhecimento ou testemunharam a agenda proativa do ministro de Bolsonaro em nosso solo. A mais perfeita tradução da visita só pode ser a de que o ministro Ramos, confrontado, prontificou-se a descascar abacaxis, refletidos nas reivindicações administrativas do governador, de prefeitos e deputados, que apontam para gargalos cujo destravamento deveremos ter o general como aliado no círculo do poder em Brasília. Em paralelo, o ministro demonstrou que saboreia com prazer o legítimo abacaxi, a fruta que é tão íntima da nossa paisagem, o que emprestou um lado lúdico a uma pauta tecnicamente chata, do ponto de vista de demandas & acertos de contas.
Conforme o IBGE, mencionado pela atilada colunista Sony Lacerda, a Paraíba é o segundo Estado que mais produz o abacaxi, da família das bromeliáceas e que é cultivado numa área estimada de 10.912 hectares em municípios da Zona da Mata e do Agreste do Estado. Evidente que o ministro-general tem informações de que houve ciclos em que o abacaxi paraibano perdeu projeção e competitividade no mercado interno e externo, mas deve ter sido igualmente avisado de que isto foi apenas um acidente de percurso, uma má formação de determinadas conjunturas que se tornam madrastas em regiões encravadas no Semiárido como inúmeras da Paraíba. Ciclos e fases difíceis estão aí para serem superados e, mesmo convivendo com diversidade de opções frutíferas que por meio da tecnologia podem se tornar mais atrativas, o abacaxi resiste sem perder a doçura jamais. Para gáudio da pauta de exportações da pequenina Paraíba.
O abacaxi, na verdade, entra como alegoria de um fato superveniente, indiscutivelmente relevante, que se operou na Paraíba, ontem: a distensão protagonizada entre o general-ministro do governo do capitão Jair Bolsonaro e o governador João Azevêdo, que não esconde divergências com o governo do capitão nem a oposição que lhe fez quando candidato a presidente da República em 2018. O que o governador demonstrou, ontem, no simbolismo das tratativas e na alegoria dos abacaxis, foi a sua vocação intrínseca para o pragmatismo político que recomenda que se coloque o interesse público acima de questões paroquiais.
A Paraíba estava acima de picuinhas, de questiúnculas, do varejo que constitui a política menor, tacanha, mesquinha e ultrapassada. E o governador João Azevêdo foi um grande artífice para materializar o exemplo positivo, tocando de ouvido com um ministro sensível ao contencioso de gestão e incondicionalmente encantado pelas delícias do abacaxi paraibano. Alvíssaras e evoés!
Nonato Guedes