Em depoimento para o livro “JN: 50 Anos de Telejornalismo”, o editor-chefe e apresentador do Jornal Nacional da Rede Globo, William Bonner, comenta as mudanças ocorridas na história do noticioso e conclui que em vez de fonte em primeira mão o JN segue no papel de organizar os tantos e tantos fragmentos de notícias em uma história com começo, meio e fim, apresentada dentro do contexto em que se deu. “O telejornal dá sentido a esses fragmentos ao fim de um dia. Com isso, torna-se, também, a referência de legitimação das notícias para quem tomou conhecimento delas por meio de redes sociais, por exemplo”, explica Bonner, adiantando: “É como se a divulgação de uma informação pelo JN, como órgão importantíssimo da imprensa profissional brasileira, representasse a necessária confirmação de sua veracidade, em um universo infinito de boatos e mensagens falsas que chegam aos olhos de todos, no mundo inteiro”.
Para William Bonner, o “Jornal Nacional” é fonte confiável para separar o que é fato daquilo que é fake, para usar um termo que se tornou absolutamente corriqueiro nos dias atuais. “Uma diferença notável entre o JN de 2009 e o de 2019 – compara ele – é exatamente a postura de vigilância máxima diante da disseminação caudalosa de boatos a que estamos todos sujeitos”. Ressalta, ainda, o investimento feito na maior informalidade com que os chamados âncoras (apresentadores) passaram a relatar os fatos. Para ele, isto foi amplamente percebido e aprovado pelo público, especialmente ao longo dos últimos cinco anos. Repórteres e editores, conforme ele, tiveram oportunidade também de aprender técnicas de roteirização para experimentar formas diferentes, surpreendentes e mais interessantes de organizar as informações e contar histórias. Em 2009, William Bonner completou a primeira década na chefia de edição. Atualmente ele é o principal apresentador do JN, juntamente com Renata Vasconcellos.
Ele recorda que apresentava o “Jornal Nacional” havia três anos, como um dos sucessores da dupla mais marcante da história do telejornalismo brasileiro, Cid Moreira e Sérgio Chapelin. “Em uma tarde de setembro de 1999, mês do trigésimo aniversário do JN, o diretor-geral da então Central Globo de Jornalismo, Evandro Carlos de Andrade, me pediu que assumisse interinamente a chefia da equipe de editores do jornal, cujo titular, Mário Marona, havia sido nomeado para a direção de Jornalismo da Globo Brasília. Sua experiência anterior como chefe de um telejornal tinha durado três anos, de abril de 1993 até o fim de março de 1996, no jornal Hoje, e dividindo a chefia com colegas mais experientes: Carlos Absalão, Edson Ribeiro e Lúcia Santanna. “Três anos depois de ter migrado para o JN sem cargo de chefia, sentia-me despreparado para o comando. E assustado. Perguntei ao Evandro o que esperava de mim nos dias em que ocupasse o cargo. “Faça o que acha que deva ser feito”. E completou com uma frase que até hoje Bonner credita ao autor: “Na interinidade, os poderes do cargo devem ser exercidos na plenitude”. Sua condição de interino durou uns dois meses. Sem aviso prévio, Evandro enviou, então, mensagem a todo o jornalismo da Globo anunciando a efetivação de William no cargo de editor-chefe do Jornal Nacional. “Âncora, portanto, porque acumularia as funções da chefia da equipe de edição com a de apresentador”.
– Durante, ao menos, quatro décadas, o Jornal Nacional carregou a responsabilidade de ser, para milhões de brasileiros, a fonte primeira de informações sobre aquilo que de mais importante se deu durante o dia. Mas com a universalização da internet, das redes sociais e dos smartphones, verificadas nos últimos dez anos, quando o JN entra no ar a maioria dos cidadãos já terá sido confrontada com as notícias de maior apelo – muitas vezes, ao longo do dia, na telinha do seu celular, no computador, na própria tela da Globo, na Globonews, no rádio. O que não elimina a responsabilidade do Jornal Nacional, obviamente, mas o transforma – assevera William Bonner, lembrando que o JN nasceu em 1969 quando as pessoas se comunicavam à distância com o telefone instalado fisicamente em algum imóvel ou em cabine pública – ainda não existiam nem mesmo os “orelhões”. “Hoje, os assuntos obrigatórios em uma edição do Jornal Nacional são os que têm importância absoluta”, finaliza William Bonner.
Nonato Guedes