Faltando um ano, a partir de agora, para a realização das eleições municipais de prefeito em todos os municípios brasileiros, o titular da prefeitura de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), que está no exercício do segundo mandato, ingressa numa ofensiva de inaugurações de obras e entrega de serviços para simbolizar o deslanche da gestão no curso de oito anos que se completará em dezembro de 2020. A estratégia montada, é claro, além de fazer parte do planejamento inerente aos mandatos que Luciano tem empalmado, guarda ligação direta com a sucessão dele no próximo ano, diante da perspectiva de que o atual prefeito venha a enfrentar adversários potencialmente desestabilizadores nas urnas como o ex-governador Ricardo Coutinho, a grande esperança do PSB para voltar ao comando de uma prefeitura da qual foi desalojado em 2012, apesar de manter sob controle o governo do Estado.
Sem ser propriamente um líder político carismático, Luciano Cartaxo impôs-se com naturalidade no cenário político da Capital, conquistando votos e simpatia entre camadas distintas do eleitorado, mercê do ritmo dinâmico que buscou empreender no papel específico de administrador. Na opinião de analistas e “experts”, ele soube captar com propriedade a expectativa do pessoense quanto à função de um prefeito, que é a de ser uma espécie de cuidador ou zelador da cidade. Só que, na visão de secretários e aliados, ele foi muito mais além do feijão-com-arroz que se espera de alcaides e partiu para intervenções ambiciosas e, em certa medida, revolucionárias, na paisagem urbana da Capital das Acácias, procurando ajustá-la com os desafios e as demandas que o crescimento impõe. Desse ponto de vista, fez-se meticuloso e criativo para driblar dificuldades orçamentárias e até mesmo para conviver com a má vontade do então governador Ricardo Coutinho (PSB), que não avançou na relação institucional ou republicana, com isto penalizando parcerias que teriam sido indispensáveis e extremamente valiosas para fazer João Pessoa avançar em relação a capitais nordestinas que conseguiram ir mais longe.
Conquanto seja natural de Sousa, com origens em família tradicional enraizada no sertão paraibano, foi na Capital que Luciano e, mais recentemente, seu irmão gêmeo Lucélio, engajaram-se na militância política propriamente dita – Luciano largando como vereador, com uma passagem efêmera pela vice-governança do Estado, eleição à Assembleia Legislativa e, finalmente, prefeitura de João Pessoa, Lucélio ainda não triunfante em batalhas, até por ter sido lançado, em disputas de “rabo de foguete”, a cargos de maior dimensão, como o de senador, em 2014, e o de governador, em 2018. Luciano foi proativo, igualmente, na militância estudantil, em fóruns universitários, e alistou-se entre os “construtores” do Partido dos Trabalhadores, dele migrando a tempo de não se contaminar com os escândalos que desgastaram a legenda de Lula, a partir do mensalão. Tem o figurino do político pragmático, que não é de grandes enfrentamentos, mas que também não foge dos desafios descortinados ao longo da trajetória.
Ao inundar João Pessoa com um pacote de intervenções urbanísticas, na reta pré-final da administração, Luciano Cartaxo, até certo ponto, destoa da lógica que apregoa que os governantes não se repetem no mesmo cargo e que se perdem nas gestões consecutivas por não terem mais novidade a apresentar e, talvez, nem mesmo ardor cívico ou fôlego para tocar o barco. Foi este argumento, entre outros, que levou o ex-ministro João Agripino, consagrado ao governo em 1965, a não tentar disputar novamente o Palácio da Redenção. “Os eleitores iriam esperar muito de mim e talvez eu não correspondesse”, afirmou-me ele, num depoimento histórico. Luciano, até agora, tem estado mais para Ricardo Coutinho, com quem não se afina politicamente. Prefeito eleito da Capital por duas vezes, Coutinho foi eleito governador também por duas vezes. Evidente que essa última parte falta no currículo de Luciano e é difícil adivinhar se nele constará pela frente. O futuro, antes e sempre, a Deus pertence.
Registre-se, porém, como saudável, esse vigor que exibe o gestor atual de João Pessoa, que pelo menos a nível de governo de Estado vislumbra parcerias, dado o estilo diferenciado que o governador João Azevêdo, parceiro de Ricardo, põe em prática. Uma notícia excelente para a população da terceira cidade mais antiga do Brasil. Ainda não suficiente, claro, para garantir passaporte a Luciano quanto a voos maiores. Mas a esperança, para recorrer ao brocardo popular, ainda é a última que morre…
Nonato Guedes