Na colcha de retalhos que ainda compõe o secretariado do governador João Azevêdo, ficou evidente na reunião de hoje no Centro de Convenções que o ex-deputado federal Luiz Couto (PT) é o grande peixe fora d’agua na equipe do gestor, que aparenta estar de passagem pelo PSB, com perspectiva de migração para outro partido (teve oferta, até, de Marina Silva (Rede), ex-presidenciável). Couto pisou na bola quando, em plena reunião administrativa, comandada pelo governador, externou seu desagrado porque Azevêdo concordou em receber na semana passada um general que é ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, enfeixada por Jair Bolsonaro (PSL), que derrotou o petista Fernando Haddad.
O governador não teve contemplação com o “mimimi” de Couto, deixando claro que quem for auxiliar seu deve aprender a separar partido de governo – ou, então, deixar o governo e ficar com o partido. Uma fonte bastante ligada a Azevêdo comentou, em tom de blague, após o desaguisado, que nada acontece por acaso, insinuando que Couto deu de bandeja a Azevêdo a oportunidade de se afirmar como o atual governador da Paraíba, cabendo a quem quiser se aliar a ele e, naturalmente, aceitar o seu estilo, que não guarda a menor similitude com o de Ricardo Coutinho, antecessor que participou da campanha vitoriosa de 2018 mas demonstrou querer “tutelar” as ações e os passos de Azevêdo, ignorando ou desdenhando da autonomia que este tem na chefia do Executivo estadual, como vitorioso numa eleição decidida em primeiro turno.
Em relação a Luiz Couto, que no passado, quando Ricardo era militante do PT, chegou a ter desforço pessoal com ele em assembleias movimentadas em João Pessoa, registradas em livro do professor Paulo Giovani Antonino Nunes, deu-se que em 2018 ele foi incentivado por Ricardo a disputar o Senado. Fez parceria “compulsória” com Veneziano Vital do Rêgo, recém-atraído para o PSB e que, quando no MDB, como deputado federal, votara pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Veneziano, líder indiscutível a partir de Campina Grande, cuja prefeitura administrou por dois mandatos, ainda hoje comemorou nas redes sociais o primeiro ano da sua vitória ao Senado. Derrotou, como principal adversário, Cássio Cunha Lima (PSDB), que tentava a reeleição e que também foi prefeito de Campina Grande. Ricardo, numa estratégia obsessiva, lutou arduamente para emplacar Couto na segunda vaga ao Senado. Não deu, embora Luiz tenha tido mais votos que Cássio, que ficou em quarto lugar.
Como prêmio de consolação e reconhecimento à atuação de Luiz Couto na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, ele foi assimilado para compor a equipe de Azevêdo, que quase na mesma faixa, só que mirando a agropecuária, tornou secretário o ex-senador Efraim Morais, inimigo figadal do Partido dos Trabalhadores, que foi ironizado pelo ex-presidente Lula da Silva quando viabilizou a CPI dos Bingos, tendo como ponto de partida o envolvimento, em transações obscuras, do contraventor Carlos Augusto Ramos, “Carlinhos Cachoeira”. Lula, na época, intuindo que a CPI iria resvalar nas franjas petistas, buscou desmoralizá-la, criticando Efraim, originário do PFL, hoje presidindo o sucedâneo, Democratas. O ex-presidente petista chamou a CPI dos Bingos de “CPI do Fim do Mundo”.
Como secretário do governo Azevêdo, Luiz Couto não tem tido maior publicização de atos marcantes na secretaria de Agricultura Familiar que enfeixa. Quase não é notícia na mídia. Irrompeu espetacularmente hoje quando, num gesto velado de insubmissão, ousou discordar da postura política-administrativa que seu chefe, o governador João Azevêdo, conduz, a seu talante. Há quem pergunte se, depois do “puxão de orelhas”, emitido com elegância pelo governador, Couto ainda tem ânimo para permanecer no governo. É o que se vai ver, de agora em diante. De concreto, sabe-se: 1) É um secretário inteiramente deslocado na administração João Azevêdo; 2) Abriu-se a bolsa de apostas sobre o prazo de validade da sua estadia numa secretaria do primeiro escalão de um governador que tenta, de uma vez por todas, firmar identidade própria na Paraíba e no cenário político nacional.
Nonato Guedes