A reunião mantida, ontem, pelo governador João Azevêdo com o seu secretariado, ocorreu em meio a um simbolismo histórico: há exatamente um ano, o técnico João Azevêdo Lins Filho elegia-se para a chefia do Executivo paraibano, em primeiro turno e concorrendo pelo Partido Socialista Brasileiro, com o apoio de líderes como o ex-governador Ricardo Coutinho. A sete de outubro de 2018, Azevêdo emergiu das urnas com 1.119.758 sufrágios, o correspondente a 58,18% dos votos válidos. Foi um resultado surpreendente porque sinalizou a primeira incursão de Azevêdo pela disputa política. Engenheiro civil, formado pela Universidade Federal da Paraíba, pós-graduado em ensino técnico, ele ocupou inúmeros cargos, em órgãos da administração estadual e da prefeitura de João Pessoa, chegando a exercer a secretaria de Planejamento de Bayeux, na região metropolitana da Capital.
Natural de João Pessoa, Azevêdo serviu a gestores distintos, emprestando sua competência na elaboração de planos e de projetos estruturantes, de impacto e de repercussão. A aproximação maior deu-se com Ricardo Coutinho, para quem desenvolveu iniciativas desde a passagem deste pela prefeitura de João Pessoa, atuando, mais tarde, no governo do Estado. É respeitado como um profundo conhecedor do planejamento urbanístico da Capital, mas a sua incursão pela administração estadual deu-lhe as ferramentas indispensáveis para conhecer a realidade da Paraíba como um todo. Seu nome foi cogitado por Ricardo para concorrer à prefeitura de João Pessoa, mas a postulação não se concretizou. Em tese, João estava reservado para o governo do Estado.
Ao anunciar os nomes dos principais secretários de governo, em redes sociais, ele deixou claro que a gestão seria de continuidade, daí porque vários nomes remanescentes da equipe de Ricardo Coutinho foram mantidos num primeiro momento. A situação começou a desandar com a divulgação de denúncias formuladas contra ex-auxiliares como Livânia Farias, Gilberto Carneiro e Waldson de Souza, citados na Operação Calvário, do Gaeco e MPPB, que apurou irregularidades em contratos do governo com organizações sociais responsáveis pela gestão pactuada da Saúde Pública, a exemplo da Cruz Vermelha. Confrontado com as denúncias, Azevêdo acatou pedidos de exoneração de secretários, um gesto que teria contribuído para abespinhar Ricardo Coutinho e fazê-lo deflagrar o começo do distanciamento de Azevêdo, afinal consumado na queda-de-braço pelo controle do PSB estadual.
Azevêdo explicou, no anúncio inicial, que algumas das secretarias haviam sido reformuladas para atender à sua concepção sobre o funcionamento da máquina administrativa. A pasta da Educação, por exemplo, passou a contar com a secretaria executiva de Ciência e Tecnologia. As mudanças, segundo ele pontuou, não sinalizavam divergência maior com Ricardo, tanto que Azevêdo chegou a defender de público, como válida, a terceirização de serviços públicos, envolvendo organizações sociais. O descredenciamento da Cruz Vermelha pelo seu governo não significou que ele desaprovava o modelo das OS, mas, sim, que exigia transparência e critérios mais rigorosos para atuação dessas organizações.
No secretariado, Azevêdo acomodou “gregos e troianos”, pagando “faturas” de compromissos eleitorais firmados com a colaboração de Ricardo Coutinho. Foi assim que Efraim Morais, do Democratas, foi escolhido para a secretaria de Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca, enquanto Luiz Couto, do Partido dos Trabalhadores, foi ungido secretário da Agricultura Familiar e do Desenvolvimento do Semiárido. No plano político paraibano e, sobretudo, na conjuntura nacional, Democratas e PT tratam-se como adversários figadais. O atual governador tem atuado em várias frentes com o intuito de atrair recursos, obras e investimentos para a Paraíba. Foi assim que abriu canais de interlocução com o presidente da República, Jair Bolsonaro, através de ministros e interlocutores. E, para dar o exemplo, distensionou relações com os prefeitos de João Pessoa, Luciano Cartaxo, e de Campina Grande, Romero Rodrigues, com quem Ricardo não conviveu bem.
Nonato Guedes