Kubitschek Pinheiro
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Vai se aproximando janeiro de 2020 e a gente só pensa em dezembro, o mês em que choramos à toa. Muita ansiedade por nada, clima de festa que não dá para esconder, quando ninguém consegue disfarçar, aliás, em dezembro, nada supera os agradecimentos, até que morra a ilusão e comece tudo de novo. Sei lá, sambar é meu oficio e eu fico só pensando no carnaval.
“Parece dezembro, de um ano dourado, parece bolero”. Não não quero cantar, tenho duzentas coisas para fazer antes que novembro se vá ou não se vá… eu já não posso suportar a saudade de Jane e Herony. Esquece, não está mais aqui quem falou.
Outro dia encontrei com aquela moça cosendo roupa com a linha do Equador da canção de “Beradeiro” de Chico César e, lá longe, a voz da Santa dizendo, o que é que eu tô fazendo cá em cima desse andor. Por onde andará Paulo Freire?
Em dezembro sigo no rumo dos vagalumes, adrenalinas, vibrações, veias capilares, fico olhando o mês passar nas noites de encantos de pisca-pisca e noites híbridas, onde as plantas se acendem sem o auxílio das luzes que piscam nos jardins dos ricos e pobres. Viva São João! Viva!
Sou de um dezembro surreal, com aquelas luzes que lembram bolas de ping-pong coloridas nos pés de algaroba, lapinhas por toda parte, peru de capoeira e guaraná campanhe. Benção pai, benção mãe! O tempo é cruel, nunca oferece conforto.
Hoje me sinto misturado às dores desse mês, procurando sossego de mil maneiras, nesse sargaço de saudade. Feridas tão velhas misturadas às novas, que creio, virarão pérolas. Tomara. Se causei alguma dor, não foi por querer. Se eu pelo menos pudesse contar dinheiro. Deve ser muito bom contar dinheiro. Mas só em janeiro para ver quanto sobrou.
Me finjo de planta para fugir do latido do cão, mas também apareço no escuro, quando o telefone toca e do outro lado alguém me avisa que aquela pessoa querida foi embora. Foi embora pra onde? Foi. Eu tinha uma amiga que tomava ácido e falava com as plantas. Era incrível. E ela era bela. A bela Patricia. Foi numa festa naquela casa redonda da beira mar do Cabo Branco. Eu não quero chorar.
A raiz humana a gente cobre com terra, seja em dezembro, agosto ou em qualquer outro mês, Semana Santa ou carnaval – tudo zen, nada mal. E os frutos a gente colhe no mês das chuvas. Adoro quando chove.
Meses dissimulados, são como o anel de noivado que nunca usei, meses que ofuscam sob as alianças de maio, os falsos diamantes enlouquecidos do carnaval e que todos ofusquem o engaste de qualquer sermão.
Dezembro, vai depressa, na pressa dessa canoa, na graça e na desgraça, mas eu não prefiro a garoa, gosto mais da poeira. É nela que eu me levanto.
As alegrias desse dezembro morrem antes, neste ano perdemos Boechat tantas idas e vindas, sonhos que se findam e se renovam, só porque esse mês é o aniversário do menino Jesus. Ô menino sai do sereno!
Kapetadas
1 – Emprego. Cadê? Uma das palavras menos empregadas hoje em dia.
2 – Sabe os dromes? Comprovadamente são as novas e vorazes aves de rapina: caçam restos de privacidade, enquanto devoram sobras de liberdade, nacos de segurança.
3 – Som na caixa: “Tô me guardando pra quando o carnaval chegar. Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, … “.