Nonato Guedes
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Na passagem, hoje, do Dia do Professor, é inevitável constatar uma péssima notícia: o desmonte que o governo do capitão Jair Bolsonaro vem impondo à Educação no país a pretexto de fazer valer a ideologia conservadora, ou de direita, que ele pugnou na campanha eleitoral. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, cumpre sem pestanejar as ordens que emanam da cabeça do capitão, tentando sensibilizar a opinião pública com o argumento de que é preciso extirpar influências ideológicas de esquerda ou de liberal-socialismo e, mais do que isso, eliminar todos os supostos focos de doutrinação. Por mais que o apelo seja forte, ou seja, tenha repercussão, e que a desideologização seja apoiada por expoentes progressistas ou de viés de esquerda, a violência com que o atual governo intervém nesse segmento assusta e cria uma zona de sombra sobre o futuro do ensino.
Bolsonaro já deu mostras de que não é receptivo a investimentos na Educação de qualidade, aquela que prepara o aluno para se inserir no mercado de trabalho e dispor de uma condição social digna, cidadã. Pior do que essa insensibilidade pontual é a verdadeira caça às bruxas que o governo e seus agentes empreendem contra os meios artísticos e culturais, a ponto do capitão reformado negar-se a assinar a premiação do “Camões” ao cantor, compositor e escritor Chico Buarque de Holanda como birra pela posição intimorata de Chico a favor da soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que cumpre pena de prisão na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Bolsonaro representa o atraso, o anacronismo, a Idade Média num Brasil que ao mesmo tempo se depara com uma revolução na sala de aula, conforme registra a revista “Veja” ao mencionar colégios novos que abrem as portas para uma grande mudança no ensino deste século XXI, enquanto os tradicionais se mexem para não ficar para trás.
Diz a “Veja” em trecho que elucida didaticamente o que há de novo na sala de aula:
“Mesmo que muitas escolas brasileiras ainda patinem em mazelas básicas e sigam aferradas à tríade consagrada no século XIX (professor, lousa e giz), outras tantas começam a se sintonizar com o idioma desta era em que o saber enciclopédico cede lugar a uma sala de aula que ensina o aluno a se virar em meio ao desconhecido, conectar (esse é sempre o termo) disciplinas de distintas naturezas e chegar a respostas para problemas concretos. Pela potência da chacoalhada, especialistas enxergam uma revolução e ela já causa tremores, dos bons, no Brasil”.
A matéria assinada por Fernanda Thedim e Maria Clara Vieira prossegue: “Esqueça as carteiras tediosamente enfileiradas e o ambiente estático. Agora, até as paredes se movem para criar ora uma sala mais ampla, ora uma mais concentrada, a depender da atividade. As escolas em busca dos ares do século XXI estão rompendo com o antigo desenho, que não dá espaço a um princípio que lá atrás, em 1897, o pedagogo americano John Dewey já enunciava em seu livro “My Pedagogic Creed: Learning by Doing” – a criança aprende fazendo, experimentando, e não apenas ouvindo. Muitos estudos e anos depois, a ideia se difundiu e desembarca em colégios brasileiros, posta em ação em laboratórios conhecidos como maker space, em inglês mesmo, como tantos vocábulos da escola ultramoderna. Aliás, a garotada mexe com chips e baterias, cortadora a laser e até impressora 3D, que dá vida a outra prática bem século XXI: o design thinking (método de resolução dos problemas que consiste em fracioná-los, produzir protótipos e testá-los). “Já viu uma aula que a criança não quer que termine? Elas ficam 100% envolvidas”, diz Priscila Torres, diretora em São Paulo da Concept – uma das várias particulares a aderir ao chamado movimento maker”.
De acordo com a reportagem da revista do grupo Abril, em prol da sobrevivência, colégios tradicionais estão sendo obrigados a sacudir a velha grade para fazer frente a uma recente leva de escolas que se propõem a oferecer o cardápio completo do século XXI, entre elas a própria Concept, também em Ribeirão Preto e Salvador, a Beacon (São Paulo), Avenues (São Paulo) e a Eleva (no Rio e, em breve, em Brasília). São todas bilíngues, com mensalidades de 5 000 a 9 000 reais. Nessa mexida modernizante, novas disciplinas que antes eram eletivas ou não existiam chegaram para ficar. Este é um Brasil moderno, que passa longe do Brasil tacanho, anacrônico ou medieval enfeixado por Bolsonaro e sua trupe amestrada. Também é o Brasil que deve perdurar, já que Bolsonaro e seu governo constituem acidentes de percurso na história política-administrativa da Pátria.