Kubitschek Pinheiro
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O Brasil merece o Brasil? O calvário é a própria cova que o cara há anos vem cavando? Meritocracia no Brasil? Esquece. Minha audição é preto-e-branco. Ou preto no branco. Na dúvida, opte sempre pela atitude menos irritante. Não sei quem disse isso, mas lembro bem quando vi Agildo Ribeiro pela primeira vez numa Feijoada do Abelardo, no Hotel Ouro Branco, ele ria demais e eu não entendia porque. Foi só século passado. Eu gosto muito da Clara Crocodilo de Arrigo Barnabé? Será que Arrigo Barnabé está no Pão de Açúcar, da Epitácio Pessoa?
Exemplo grátis: morando no silencio, não desperdiçar uma única oportunidade de sair para ver o mundo, aliás, o mundo já foi mais inteligente, mais criativo. Só restam entulhos. O que é arte e o que não é arte?
Fazer alusões mais ou menos sutis a coisas como falta de dentes, verminose, alto teor alcoólico, o pênis vigoroso do poema de Irene Dias. Não, não faça isso. E, sobretudo, não se esquecer de esconder os CDs de Monsueto Menezes, Adoniran Barbosa, Geraldo Pereira atrás dos César Francks. Porém, se convidado para uma noitada de vinhos, aquela gente sabidona que sabe direitinho a diferença entre Merlot, Chardonnay e Chapinha, vire a rolha. Aliás, nem vinho tomei.
Se eu tivesse um chapéu de cangaceiro não colocaria em cima da minha cabeça de fósforo, mas não abomino sandália de couro cru e triângulo e zabumba. Tá perto de São João?
Resumindo: as suas, as minhas intervenções -muitas- nas conversas alheias, todas naquele inglês eduardiano, a cantar “eu já dancei balancê, chamego, samba e xerém”. Não falha não viu meu nego, por que o pau canta.
Saudades da jornalista Selma Tuarge, das xícaras e do café 33, que nasceu e morreu de propósito. O Café em Cena também morreu. Tô sabendo através de sítios noticiosos que o Live 8, evento do irlandês mala Bob Geldof concebido para encher o bolso de alguns ditadores africanos, ressuscitou noutra formação. Acho que é conversa fiada.
Puxa vida, a síndrome do intestino irritável irrita pra caramba. Mas parece que é o mundo todo. Não é todo dia que a TV mostra nada a ver. Aliás, com a minha cabeça de fósforo eu não saio da ponta mais desorientada das Américas.
Na alegria pulo, disfarço, faço mímica, imito Fulano, quando estou triste, bem triste não faço nada, aliás corro para cima da caixa d´água e de lá contemplo o telhado, onde me escondia antigamente das caretices do mundo.
No Natal deste ano quero ser uma árvore, sei não, mas até os anjos correm o risco de enjoar da modernidade. Amanhã de manhã vou pegar o expresso do oriente, cheio de gente, alguns belos entoando cantos gregorianos e eu chorando o amor.
Fingir é fugir pela porta da frente, sabia? Às vezes vejo minha ansiedade exposto num álbum de figurinhas que compro para meu filho. É isso, vou dormir com minha cara de desprezo do Agildo Ribeiro. Fui. Agildo era o máximo!
“Um dia a vida será mais justa”.
Sim. Esperemos que sim. A frase é do velho Oscar Niemayr. Um dia esse país encardido deixará ser absurdamente cruel com tanto roubo e corrpção, para quem pelo menos estiver vivo. Um dia, fulanistas, idiotistas e até stalinistas hipócritas ouvirão tudo aquilo que merecem, e não apenas elogios e loas, fruto direto de um país covarde o suficiente para não recriminar os horrores que assistimos a olho nu.
Um dia, estes mesmos hipócritas que tanto pregam a igualdade poderão abdicar de suas coberturas na avenida Atlântica e doar o dinheiro dela aos pobres e oprimidos do mundo (ou quem sabe convidá-los a dividi-la com ele?) e assim provar que realmente carregam a igualdade no coração, e não apenas na ponta de suas línguas.
É, Oscar, a coisa aqui continua preta, preta, pretinha…..
Ilustração de Régis Soares