Nonato Guedes
Tem sido notório o esforço do governador João Azevêdo (PSB) para não precipitar uma tomada de posição partidária sobre o seu futuro e o do seu esquema político, diante da “ocupação” da legenda pelo ex-governador Ricardo Coutinho e seus adeptos. Azevêdo optou por cautela em termos de definição após avaliar que teria tempo de sobra, já que não é candidato no pleito do próximo ano, diferentemente do seu antecessor, que é açulado pelos ‘ricardistas’ a empalmar novamente uma candidatura a prefeito de João Pessoa, cargo que ocupou por duas vezes. Ocorre que nem sempre se tem controle sobre os fatos. Uma legião expressiva de aliados de Azevêdo vai à luta por prefeituras e câmaras municipais e precisa se assenhorear com certa antecedência da estrutura com que pode contar, especialmente em termos de partido.
Dentro do PSB, com Ricardo reinando soberano, implantando uma hegemonia que ninguém contesta, até porque, teoricamente, referendada pela cúpula nacional da agremiação, o metro quadrado fica estreito demais para os aliados do governador, o qual se impõe pelos instrumentos de poder de que dispõe e pela aposta nos bastidores de que não sairá chamuscado ao fim e ao cabo do desenrolar da Operação Calvário, que já vitimou ex-auxiliares da era Coutinho no Estado, além da agenda de obras e realizações com que acena. Os que querem formar com João Azevêdo querem dispor de uma bússola segura, porque não têm interesse em partir para aventuras imprevisíveis na conjuntura que se esboça na Paraíba em meio à perspectiva de uma recomposição do jogo político-partidário.
A necessidade de definição torna-se tanto mais latente quando se sabe que líderes políticos alinhados com o governador Azevêdo enfrentarão disputas acirradas em municípios influentes da geografia de poder no Estado, especialmente no confronto pelo controle de prefeituras municipais. Este é o caso, por exemplo, das prefeituras de João Pessoa e de Campina Grande. Mas há inúmeros outros municípios com peso em regiões específicas onde as forças que vão se enfrentar são pressionadas, desde agora, a ir mostrando a cara e desfraldando as cores de suas bandeiras, para que não haja dúvida ou confusão de última hora sobre os embates que serão travados a céu aberto, no exercício da santa democracia. A perspectiva de acirramento de disputas arrasta esquemas políticos para o eixo das definições, sobretudo, das alianças de ocasião que pretendem materializar a fim de reforçar a logística num plebiscito que terá conotação atípica na história recente da política paraibana.
Se não tem propriamente um selo de autenticidade socialista, João Azevêdo não se fez, até agora, infenso ao catecismo do partido. Pelo contrário, mesmo quando era politicamente neófito, transitou com desenvoltura no território das pugnas, colaborando, dentro de suas limitações, para somar com projetos que pareciam sólidos e destinados a se perpetuarem por mais um espaço razoável de tempo no poder. Nunca procurou medir-se com Ricardo Coutinho, cuja liderança política sempre teve respeito de sua parte. As coisas começaram a desandar, como pode ser testemunhado pelos que acompanham a conjuntura local, com o violento processo de intervenção da cúpula nacional no diretório estadual, sem justificativa plausível exceto a de atender a caprichos e vaidades pessoais do ex-governador Coutinho. Agindo com velocidade, Ricardo e seus discípulos ocuparam o PSB estadual e pessoense em ação “manu militari”, desalojando de postos-chaves figuras que teriam se bandeado para a caneta de Azevêdo. Foi um “tour de force” inesperado, consequência passional do desejo de Ricardo de voltar ao palco ao invés de ser confinado em papel irrelevante.
O PSB é uma espécie de objeto do desejo do ex-governador Ricardo Coutinho porque tem uma formidável margem de manobra para se inserir sem maiores problemas no debate político-ideológico, que se torna inevitável diante da ofensiva do presidente Jair Bolsonaro e dos seus robôs políticos que o acompanharão na aventura em busca da reeleição no pleito de 2022. Até lá, o presidente estará alojado em outro partido, diante da inesperada tempestade que se abateu sobre o PSL, justamente em cima de questões éticas que forraram o discurso encontrado por Bolsonaro para fazer face ao PT e ao ex-presidente presidiário Luiz Inácio Lula da Silva. O PSB é contraponto a Bolsonaro – este é um ponto sobre o qual parece não haver dúvidas, diferentemente do PDT de Ciro Gomes, sempre às voltas com crises de identidade. No debate nacional o PSB terá protagonismo. O PDT não tem essa certeza.
Quanto a Azevêdo, não se trata de abreviar apenas a definição partidária. Mas de ir para a prova dos noves sobre os soldados com que contará no exército que molhará os pés no Rubicão para dar combate a outros exércitos, entre eles, o chefiado por Ricardo Coutinho. Entre Ricardo e Azevêdo, não haverá fogo amigo nas eleições municipais. Haverá fogo cruzado, de artilharia pesada. Quem quiser, pague para ver!