Nonato Guedes
O deputado federal paraibano Julian Lemos, que está no exercício do seu primeiro mandato, pelo PSL, assumiu guerra aberta com o presidente Jair Bolsonaro e seu “clã” familiar. O litígio estende-se a auxiliares e emissários de confiança do presidente da República. Na Câmara foi protocolado nas últimas horas um pedido de destituição do deputado Delegado Waldir (GO) da liderança do PSL e sua consequente substituição pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, presidente do diretório de São Paulo, que exerceria mandato-tampão até dezembro. O documento já teria 27 assinaturas de um total de 53. A bancada está dividida, com um grupo insistindo na manutenção do Delegado Waldir. Julian Lemos cerrou fileiras com Waldir, contra Eduardo Bolsonaro.
Antes, o deputado paraibano, que preside o diretório do PSL no Estado, repeliu as insinuações do advogado Admar Gonzaga, procurador do presidente da República, sobre venda da legenda para diretórios em alguns Estados, como a Paraíba. Julian Lemos desafiou o “procurador” do presidente Jair Bolsonaro a apresentar provas concretas de que tenha praticado atos ilícitos à frente da agremiação no Estado e prometeu renunciar se isto acontecer. Para ele, as insinuações são absolutamente “levianas”. Admar Gonzaga foi ministro do Tribunal de Contas da União e age, agora, como emissário de confiança do presidente Jair Bolsonaro. O deputado Eduardo Bolsonaro queixou-se de políticos do PSL que “fazem política com o fígado” e anunciou medidas para recomposição dos quadros do PSL.
Julian Lemos tem entrado em rota de colisão já há algum tempo com os filhos do presidente Jair Bolsonaro, tendo sido chamado por um deles de “papagaio de pirata” por teimar em aparecer atrás do presidente em fotografias de atos oficiais ou eventos políticos. A partir daí, Lemos distanciou-se do Planalto mas não oficializou rompimento com o governo de Bolsonaro. Isto não o impediu de desabafar que estaria sendo vítima de uma orquestração ensaiada para incompatibilizá-lo diretamente com o presidente da República. Ontem, em Brasília, Bolsonaro criticou as especulações em torno da situação do PSL e de sua permanência ou saída da sigla. “Eu não tenho falado sobre esse assunto, não justifica dizerem (sic) que estou tumultuando a relação com o partido, que estou dividindo o PSL. Eu estou calado e vou continuar calado sobre esse assunto”, frisou, comentando informações veiculadas na imprensa.
De acordo com Bolsonaro, o que interessa, no momento, é a transparência sobre as contas da sigla. Na sexta-feira, ele e mais 21 parlamentares do partido requereram ao diretório nacional informações sobre onde os recursos do Fundo Partidário do PSL estão sendo empregados. “O partido está com a oportunidade de se unir na transparência; não tem lado A ou lado B”, disse, ao deixar o Palácio da Alvorada, descartando caça às bruxas ou retaliações, como tem sido alardeado. “O dinheiro público, são R$ 8 milhões por mês. O que eu quero é transparência”, assegurou o mandatário. Na terça-feira, a Polícia Federal deflagrou a Operação Guinhol, que teve como alvo o presidente nacional do PSL, deputado federal Luciano Bivar (PE). De acordo com a polícia, a suspeita é de que os integrantes do PSL teriam ocultado/disfarçado/omitido movimentações de recursos financeiros oriundos do Fundo Partidário, especialmente os destinados às candidaturas de mulheres, após verificação preliminar de informações fartamente difundidas pelos órgãos de imprensa. O advogado de Bivar, Ademar Rigueira, divulgou nota informando que o inquérito sobre suspeitas de uso indevido de recursos do Fundo Partidário já se estende há dez meses, sem que, conforme ele, as autoridades tenham encontrado indícios de fraude no processo eleitoral. Após ter eleito a segunda maior bancada de deputados federais em 2018 e obter o maior número de votos entre todos os eleitores do país, o PSL passou a ter direito à maior fatia de recursos do Fundo Eleitoral, estimada em cerca de R$ 400 milhões para o próximo pleito, no ano que vem, que vai eleger prefeitos e vereadores.