Kubitschek Pinheiro
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Ia passando, já passei ou não tem jeito e o jeito que tem é ficar zen. Ou sem. Esbarro na estátua de Jackson do Pandeiro detonada (fotos) na Praça Rio Branco, onde acontece o Sabadinho Bom. Uma senhora gritava por Sebastiana do outro lado da antiga Pizzaria La Bambina. Quem convidou a comadre Sebastiana?
Nesse país encardido onde a caixinha de fósforo do artista paraibano que fez mil anos, ainda é o batuque é o batuque é o batuque dele ser ou não considerado o Rei do Ritmo, convenhamos, não é pra qualquer Uno. Mas destruir a arte começando pelas coxas do artista que não carece de amputação? Ou estamos falando grego e não ter nada a ver com coxias, nem jias, elegias escambau. Nem vinho tomei.
Jackson, gostei de ver assim não, cara. Sua estátua é de papel? Que papelão!
Um cara amigo meu escreveu que um franzino paraibano, de nome José Gomes Filho, natural de Lagoa Grande, pobre, negro e analfabeto até os 35 anos de idade, contrariou o futuro que lhe estendia as mãos e transformou as batucadas do seu destino. Puxa vida! Esse cara não é o Roberto.
Jackson na cena musical brasileira fez muito e deixou para trás o swing do Wilson Simonal, Toni Tornado, Bezerra da Silva e uma ruma outros mestres do balanço, recebeu, com méritos, a concorrida coroa de Rei do Ritmo, enquanto do Rei da carne de Sol de arrebol me parece mais triste que olhos da cobra verde. Pois num é eu fotografei Jackson mutilado e parece que foi um sonho, eu vou deixar de ler jornais.
Outro amigo, que não vejo há anos, aliás, minto o vi no Pão de Açúcar mas ele não me viu, o Dom Fernando Moura disse assim: “Esse artista tinha uma característica de divisão métrica dentro da música que é inato. Nem ele conseguia explicar. Pegava uma frase melódica, com tempo e marcação definidos e saia quebrando isso o tempo todo. Às vezes adiantando, às vezes atrasando, mas sempre ao final coincidindo com os acordes da música. Essa brincadeira que o Jackson fazia com a voz e com as músicas é algo realmente impressionante”.
E segue Fernando: “O grau de sofisticação, a técnica que ele usava e ao mesmo tempo a intuição, que é aquela coisa natural que vinha espontaneamente e nunca se repetiu e provavelmente nunca se repetirá porque dificilmente surgirá outro como ele”. Moura lançou a quase 19 anos, pela Editora 34, a biografia do músico, intitulada “Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo”.
Obrigado Sr. Moura, o senhor salvou a lavoura, a bateria do meu carro, a bateria do meu coraçãozinho de galinha de capoeira, mas esse jogo não vai ser um a um. Unrum.