Nonato Guedes
Em entrevista que concedeu esta semana a repórteres do UOL Notícias, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que cumpre pena numa sala da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, demonstrou confiança quanto a uma iminente libertação sua, embora insista em afirmar que não faz concessões à Justiça – não aceita nem a imposição de horário para voltar à cela, caso lhe seja concedida a prisão domiciliar, que já foi deferida uma vez e recusada por ele. Os repórteres de UOL revelaram, também, que Lula, mais do que nunca, opera politicamente a partir da prisão em Curitiba. É bastante loquaz quando resolve falar sobre quaisquer assuntos, mas adverte que a sala onde está recolhido não é nenhum “spa”, como tem sido insinuado em alguns órgãos da mídia. “Isto aqui não é um convento”, frisou.
O ex-presidente desafiou quem quer que seja a ficar no seu lugar, na cela da Superintendência de Polícia Federal em Curitiba, onde está recolhido há mais de um ano. Prestes a completar 74 anos de idade, no próximo dia 27 e reiterando que está disposto a casar, quando sair da prisão, com a socióloga Rosângela da Silva, funcionária da bi-nacional Itaipu, Lula considera “caso raro” a sua condição de sobrevivente, em virtude das suas origens, numa região castigada pela seca, no interior de Pernambuco, onde as condições econômicas do povo também são de péssima qualidade. Lula voltou a surpreender em termos de atitude política, ao fazer um apelo à ex-prefeita de São Paulo e ex-senadora Marta Suplicy para retornar aos quadros do Partido dos Trabalhadores. Marta rompeu com o PT, votou pelo impeachment de Dilma Rousseff, ingressou no MDB e, agora, tenta articular sua entrada no PDT de Ciro Gomes para sair candidata à prefeitura paulista.
Lula da Silva contou que faz corrida de cerca de dez quilômetros no período da tarde, como parte da sua estratégia para não se acomodar dentro do presídio. Ele não poupa de críticas o ministro da Justiça, Sergio Moro, que o condenou à prisão quando era juiz da Décima Terceira Vara Federal em Curitiba, responsabilizando-o por suposta corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O ex-presidente contesta com veemência o arrazoado de Moro que o condenou e que serviu de base para outras condenações em julgamentos posteriores. Disse que o processo contra ele está eivado de vícios, erros e contradições e salienta que se tivesse havido um julgamento propriamente “justo” ele já teria sido absolvido há bastante tempo. Lula ri quando ouve insinuações de que pode vir a ser candidato a vice-presidente da República, caso haja flexibilidade do Supremo Tribunal Federal na apreciação do seu caso.
A interlocutores que tem recebido em Curitiba, entre dirigentes e notáveis do Partido dos Trabalhadores, o ex-mandatário deixa patente que sua pretensão é voltar a concorrer à presidência da República, de preferência contra o atual presidente Jair Bolsonaro, que já deixou claro o propósito de disputar a reeleição ao Planalto em 2022. Lula diz que aposta no desgaste progressivo do governo do presidente Bolsonaro, em virtude das “trapalhadas” que viriam sendo cometidas e até de restrições morais e éticas levantadas contra auxiliares da confiança pessoal do chefe da Nação. Por fim, Lula da Silva anuncia que se dispõe a conceder entrevista até mesmo ao jornalista Pedro Bial, da Rede Globo de Televisão, desde que seja feita transmissão ao vivo, sem cortes, direto de Curitiba, mais precisamente da cela onde ele está recolhido.