O deputado federal paraibano Julian Lemos, vice-presidente nacional do PSL, está convicto de que a crise que assola o partido foi provocada, em grande parte, pela inabilidade política do governo do presidente Jair Bolsonaro. Em declarações ao colunista Edinho Magalhães, do “Correio da Paraíba”, baseado em Brasília, Julian Lemos criticou a interferência do presidente na liderança do partido no Congresso, por mais que Bolsonaro tenha negado qualquer articulação nesse sentido. Para o deputado, Bolsonaro pagou caro por querer pressionar a base aliada a favorecer seus filhos, que, como indica, têm sido fontes de problema e desgaste para o mandatário.
– Eles (os filhos de Bolsonaro) se acham melhores que os outros. Chamam os deputados do PSL de “favelados” e, com sua notória inabilidade, afastaram o presidente de aliados como o senador Major Olímpio e a deputada federal Joice Hasselmann, além de destruir toda a base que o presidente poderia ter – ponderou Julian Lemos, acrescentando que, apesar de tudo o que está acontecendo, o PSL sairá do impasse mais forte ainda, fortalecendo-se a postura independente de parlamentares da legenda. Na sua ótica, “o PSL se tornou uma casa confortável para aqueles que zelam pelo partido. São livres para falar e para se defenderem”.
Julian Lemos, que se apresentou como coordenador da campanha de Bolsonaro no Nordeste e chegou a ser desmentido por filhos do presidente, com quem acabou se incompatibilizando, defendeu o deputado federal Luciano Bivar (PE), que foi atacado por Bolsonaro, observando que ele sempre foi correto com os deputados e com o presidente, embora a recíproca não tenha sido verdadeira por parte deste. “Essa briga é desnecessária e desproporcional. Ele (Bolsonaro) diz que não tinha acesso a nada, e eu sei que tem. Deputado do PSL não pode ser tratado como cachorro. Essa confusão só expõe a fragilidade do governo”, insiste Julian Lemos.
A Edinho Magalhães, o deputado paraibano confessou que alertou o presidente Jair Bolsonaro sobre as proporções que a crise no PSL poderia tomar. Por duas vezes fez o alerta, preocupado em evitar o que está acontecendo agora. Deixou claro que o grupo tinha que se manter unido e ficar blindado contra sangria ou defecções nas suas fileiras. “O presidente me ouviu, mas, pelo jeito, parece que depois esquece”, ironizou Lemos. Ele negou, ainda, que existam uma ala “bolsonariana” e outra “bivarista”. “O que existe é um agrupamento que quer preservar o partido como ferramenta de governabilidade e que não abre mão do Jair”. De acordo com seus números, há pelo menos 53 deputados unânimes na manifestação de apoio ao presidente da República, mas a mesma unanimidade não ocorre em relação a filhos de Bolsonaro. “Somos leais, mas não súditos”, adverte, criticando, também, a chamada ala “olavista”, ligada ao filósofo e astrólogoOlavo de Carvalho, “guru” do presidente Bolsonaro e seus filhos. Diz Julian que os “olavistas” querem tomar o controle do partido. “E isto não é decente, nem correto”. Sobre o major Vítor Hugo, é taxativo: “Atrapalha mais do que ajuda; não é líder, não tem habilidade nenhuma de diálogo e foi colocado na liderança do governo por imposição”.
Julian Lemos ressalta que o governo de Bolsonaro está ficando à deriva no Parlamento, sem aliados, sem base, sem apoio. “Os deputados não votam com o governo por causa do líder, mas por causa da agenda que a bancada sempre defendeu. O próprio presidente tem dificuldade de articulação e as pessoas que poderiam ajudá-lo são afastadas por ele mesmo, pela interferência direta dos filhos”. Lemos faz ressalvas a declarações do Delegado Major Waldir, deputado federal, observando que lhe faltam condições para a liderança. “Mas não podemos desonrá-lo. Ele foi uma escolha que teve a participação do próprio filho do Bolsonaro lá atrás e agora não pode ser simplesmente descartado”.