Nonato Guedes
A última mediação da cúpula nacional do Partido Socialista Brasileiro para contornar o impasse entre o governador da Paraíba, João Azevêdo, e o ex-governador Ricardo Coutinho, data de 19 de agosto, quando o presidente do diretório, Carlos Siqueira, articulou uma conversa com os dois em Brasília para acerto de ponteiros, o que não aconteceu. De lá para cá, a direção do PSB tem adotado a postura do silêncio quanto à permanência ou não de Azevêdo na agremiação, enquanto dá aval, aparentemente, à ofensiva de Ricardo, que já se investiu no comando de uma comissão provisória estadual a pretexto de reestruturar a legenda e, em paralelo, efetivou a deputada Estelizabel Bezerra em idêntica comissão provisória na Capital, após a destituição da direção anterior, ligada a Azevêdo.
Os aliados do atual governador mantêm a expectativa de que ele defina com certa brevidade qual rumo partidário irá tomar na conjuntura estadual e nacional, diante da proximidade das eleições municipais para prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Eles alegam que estão sendo pressionados e cobrados a todo o instante por lideranças municipais, desejosas de articular, com antecedência, esquemas competitivos para a disputa de prefeituras, a partir de centros estratégicos como João Pessoa e Campina Grande. Nos últimos dias, Azevêdo retomou o foco na inauguração de obras e em outras discussões administrativas, passando ao largo do debate político-eleitoral. Em tese, a viagem do ex-governador Ricardo Coutinho à Espanha para participar de um evento de repercussão internacional desaquece controvérsias, tanto assim que o último confronto de RC deu-se com a ex-mulher, Pâmela Bório, na Justiça, para obter autorização de levar o filho Henri, com ele, na viagem à Espanha.
Interlocutores da confiança de Coutinho observam, porém, que ele não está desatento ao processo que se atribuiu de recomposição da estrutura do PSB, com a saída iminente de discípulos do governador João Azevêdo para outra organização partidária. Quando não dialoga diretamente com lideranças municipais, Ricardo designa emissários de confiança para mapear a situação de pré-candidaturas em diferentes regiões, com vistas a facilitar o seu posicionamento. Ao mesmo tempo, estreita vínculos com o Partido dos Trabalhadores, de cuja direção estadual ganhou moção de solidariedade por causa de insinuações “da mídia” sobre suposto envolvimento do ex-governador com desdobramentos da Operação Calvário, que apura irregularidades e pagamento de propinas num esquema com organizações sociais que exerceram gestão pactuada da Saúde e Educação no Estado. O PT considerou absolutamente infundadas as insinuações citando Ricardo.
João Azevêdo, por sua vez, analisa sem pressa as propostas e convites que recebeu para filiar-se a outros partidos, como estratégica para assegurar seu espaço e a liderança do grupo que está construindo à frente do Palácio da Redenção. Azevêdo procura manter afinidade com governadores de outros Estados, filiados ao PSB, tendo assinado a carta de solidariedade ao governador de Pernambuco, Paulo Câmara, que foi chamado de “espertalhão” pelo presidente Jair Bolsonaro, no bojo de polêmica sobre o décimo-terceiro salário do Bolsa Família. Essa postura não impede Azevêdo de manter canais com ministros do governo de Bolsonaro, para encaminhamento de pleitos do Estado.