Linaldo Guedes
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Quando vejo o sucesso de filmes como “Coringa” ou “Bacurau”, percebo o quanto a cultura da violência está impregnada em nós, seres humanos, desde sempre. E aqui não vai nenhuma crítica ao mérito artístico de tais filmes, mas apenas uma reflexão sobre o tema que levanto nas primeiras linhas desse artigo.
Parece que a violência exerce um fascínio no ser humano. Isso é bíblico e vem desde Gênesis, quando as vários tribos de Israel tiveram que se manter em luta constante para garantirem o quinhão da terra prometida. Passa pela necessidade de várias guerras vividas pela humanidade ao longo dos tempos, algumas que se transformaram em verdadeiros holocaustos, e chega à arte ou ao entretenimento, se formos usar o termo usado por Scorcese para falar dos filmes da Marvel.
Não que os filmes românticos, poéticos ou pacifistas não agradem ao público em geral. Mas às vezes parece que há um fascínio maior pelas produções de guerra, violência. Não custa lembrar que a história mais encenada no mundo em todos os tempos é do calvário sofrido por Jesus Cristo, que veio para trazer a paz.
E esse fascínio não se aplica apenas a obras de arte. Tanto que os programas de maiores sucessos no rádio e na tv são os policiais, com linguagem rasteira e imagens chocantes de crimes, violência e acidentes. Lembro que meu irmão era presidente do Sindicato dos Radialistas da Paraíba e uma vez foi ao diretor de um grande Sistema de Comunicação reclamar do nível de determinado programa policial. O diretor, ao ouvir meu irmão, puxou da gaveta uma pesquisa de opinião pública onde mostrava o programa questionado como líder disparado em audiência no dial radiofônico.
Reparem se existem aglomerações na rua em torno de uma árvore em plena floração de ipês! Agora, vejam o quanto de aglomeração popular existe quando você vai com seu carro numa via movimentada e existe algum acidente! Todo mundo, mesmo com pressa para chegar ao seu destino, para e observa o acidente e o estado dos ocupantes do carro. Depois, chegam em casa ou no trabalho com um orgulho estranho comentando sobre aquele acidente.
Dia desses estávamos comentando na calçada da Vila Guedes sobre o quanto existe gente ruim no mundo. Chegamos a conclusão que tem muito mais gente boa, mas essas são quase anônimas numa civilização que valoriza (no sentido de divulgar) mais o mal do que o bem. Pensando nisso, será que foi por acaso que Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República com um discurso belicista, exaltando as armas e o preconceito que divide a população?
Sim, ainda leio e reflito sobre o legado de Mahatma Gandhi, da cultura da não-violência, da paz. Mas quem liga para isso, quando se é mais normal querer esganar o vizinho que coloca o som nas alturas do que ir em sua casa, conversar com ele?
Linaldo Guedes é poeta, jornalista e editor. Com 11 livros publicados e textos em mais de trinta obras nos mais diversos gêneros, é membro da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal) e editor na Arribaçã Editora. Reside em Cajazeiras, Alto Sertão da Paraíba, e nasceu em 1968.