Nonato Guedes
Edson Arantes do Nascimento, Pelé, o Atleta do Século, completa hoje 79 anos de idade e festeja a data entre amigos, no Guarujá, São Paulo, onde reside. Nascido em Três Corações, Minas Gerais, Pelé enfrenta problemas de saúde – ainda em abril esteve internado em um hospital com infecção urinária. Também sofre com complicações decorrentes de uma cirurgia no quadril.
O jogador que percorreu o país, pelo Santos, para concretizar a marca histórica de mil gols – e quase marcava o milésimo gol em João Pessoa – parou guerras no exterior, namorou com a apresentadora de televisão Xuxa Meneghel, foi saudado por reis e rainhas em todo o mundo, abençoado por papas, assediado por celebridades e pessoas comuns.
Pelé foi estrela da Seleção Brasileira em Copas do Mundo e entrou na “Canarinho” com 17 anos incompletos. Os cronistas esportivos costumam dizer que a bola tinha uma química especial com Pelé, perseguindo-o para ser chutada por seus pés mágicos. Assediado em diferentes lugares, com pedidos de autógrafo, Pelé foi reverenciado de outras formas. Numa das entrevistas que concedeu, ele contou, com naturalidade: “Em 1982, se não me engano, sabe quem beijou os meus pés na frente de todo o mundo? Ninguém menos do que aquele que eu considero o melhor goleiro de todos os tempos, o Aranha Negra, o russo Lev Iashin. Pode?”.
Pelé fez filmes, como “Vitória”, com Michel Caine e Silverster Stallone. Na exibição, em Cannes, artistas famosos passavam e as pessoas aplaudiam. Quando ele passou, a polícia precisou chegar ao local porque houve um delírio. No Japão, uma comitiva foi visitar o primeiro-ministro, da qual faziam parte Pelé, o dirigente russo Mikhail Gorbachev, o homem da “perestroika”, e a atriz Brooke Shields. “Aonde eu ia, todos seguiam atrás, a ponto de os organizadores pedirem: Pelé, fica perto da Brooke Shields e do Gorbachev, porque senão ninguém fica lá com eles”.
Pelé despediu-se da Seleção Brasileira em 1971, um ano depois da conquista do tricampeonato mundial de futebol na Cidade do México. Em 1975, passou uma temporada jogando no New York Cosmos, como uma contribuição para tornar popular o futebol nos Estados Unidos, então afeitos a outras modalidades esportivas. Embaixador da Fifa em um sem número de competições, Pelé marcou o milésimo gol contra o Vasco da Gama numa partida no Maracanã, no Rio de Janeiro, furando a rede do goleiro Andrada. Era um marco disputado em todo o país, na “tournée” do Santos.
Em João Pessoa, o então governador da Paraíba, João Agripino Filho, disse a Pelé, no Palácio da Redenção, que mandaria fazer uma estátua dele em tamanho natural se o milésimo gol fosse assinalado na capital tabajara, o que não aconteceu. Pelé dedicou o milésimo gol às criancinhas do Brasil e provocou polêmica, sendo acusado de demagógico por figuras que gostariam de vê-lo engajado na oposição à ditadura militar. As declarações políticas de Pelé sempre foram controversas. Ele era estigmatizado por ter elogiado avanços do regime militar, passando ao largo das torturas contra presos políticos, praticadas nos porões. Mas, numa das entrevistas, disse que considerava Juscelino Kubitscheck, cassado pela ditadura, um dos maiores políticos do país, que merecia sua admiração, bem como Leonel Brizola, a quem admirava por ter investido na educação.
Ministro dos Esportes no governo de Fernando Henrique Cardoso, tentou o quanto pôde dinamizar a área e corrigir falhas e irregularidades mas não logrou muito avanço porque bateu de frente com a máfia dos “cartolas” e de dirigentes infiltrados até na Seleção Brasileira. Um outro ponto que rendeu críticas a Pelé foi a sua recusa em assumir bandeiras como a da negritude, seguindo o exemplo de artistas e celebridades de diversas engajadas na denúncia do racismo.
Mas Pelé assegurava: “Nunca quis ser branco. Nem remotamente. E não me preocupo mais com um tipo de crítica que se faz no Brasil me acusando de não defender minha raça”. Sobre mudanças no esporte, contou certa vez que Ricardo Teixeira disse-lhe que precisava da sua ajuda e que faria na CBF algo parecido com o que Havelange havia feito na Fifa. “Acreditei, me empenhei e, outra vez, me frustrei. Uma lástima”, reagiu Pelé.
Numa ocasião, em conversa informal com amigos e familiares, Pelé sugeriu que eles deviam começar a se preparar “porque eu vou completar 100 anos e dar o pontapé inicial num jogo no Maracanã. Aos 100 anos, tenho certeza de que chegarei, porque temos antecedentes em casa”. Deus te ouça, Pelé!