Nonato Guedes
No dia 10 de agosto de 1980 o Partido dos Trabalhadores foi fundado oficialmente na Paraíba, com a presença do líder Luiz Inácio Lula da Silva, que participou de atividades realizadas em João Pessoa e cidades do interior. No dia 13 de setembro, o PT/PB pediu seu registro provisório, uma vez preenchidos os requisitos previstos em lei. Menos de um ano depois da fundação, em março de 1981, deu-se o primeiro racha no agrupamento paraibano, com a saída de um grupo de militantes liderados por Wanderly Farias, membro da Comissão Regional e Nacional do PT e um dos principais articuladores da fundação do partido no Estado. Ele e a ex-vereadora Sônia Germano possuíam histórico de lutas na Igreja e se entusiasmaram com a perspectiva de um partido representativo dos trabalhadores, tendo mergulhado na articulação para estruturá-lo, de João Pessoa a Cajazeiras.
No livro sobre a trajetória petista na Paraíba, o professor Paulo Giovani Antonino Nunes cita depoimentos de petistas fundadores queixando-se de “atitudes provocadoras” por parte de Wanderly Farias, defendendo teses como a Constituinte, que ainda estava em fase de discussão e não tinha consenso. O grupo liderado por Wanderly, na saída, divulgou documento intitulado “Pela Unidade do Povo Brasileiro contra a ditadura militar” e anunciou ingresso no PMDB. Os nomes de cinquenta e oito militantes constavam do documento, mas nem todos desertaram, conforme se constatou mais tarde. Revoltado, Wanderly dizia que “um partido que não defende a bandeira da Constituinte, da união das oposições e da unidade sindical, se inviabilizará inevitavelmente perante o conjunto da sociedade brasileira”. Os dissidentes petistas faziam críticas, também, ao esquema dominado pelo ex-governador Wilson Braga (Arena-PDS).
A reação da Comissão Diretora Regional Provisória do PT às defecções foi no sentido de minimizá-las, argumentando que os dissidentes já não comungavam com as propostas petistas e continuavam atrelados à chamada “política tradicional”. O racha mereceu destaque em jornais sulistas como “O Estado de São Paulo”. Em nota oficial que distribuiu à imprensa em São Paulo, o então secretário nacional do PT, Jacó Bittar, informou que a cúpula havia detectado “a ação nefasta de filiados que em algumas partes do país procuravam sabotar a organização e expansão do partido”. Disse mais que esses militantes, antes de serem ouvidos em face de eventual sanção estatutária, anteciparam seu desligamento do partido. Para Bittar, “algumas dessas pessoas haviam ingressado no PT com o oculto propósito de dificultar a sua viabilização legal. Outros haviam sido atraídos pela suposição de que no PT poderiam dar livre curso às suas ambições pessoais, em detrimento de interesses coletivos”. Isto foi rechaçado por Wanderly Farias, que considerou as acusações levianas, falsas e direitistas. A direção nacional sustentava que “incidentes como os da Paraíba e outros não impedirão a organização nacional do Partido dos Trabalhadores e o seu registro definitivo no Tribunal Superior Eleitoral”.
Mesmo com as defecções, o PT paraibano realizou nos dias 21 e 22 de março de 1981 seu primeiro encontro estadual, que congregou militantes de quinze cidades do Estado. Na oportunidade, foi eleito o diretório do partido, bem como marcadas as convenções municipais. O metalúrgico Eliezer Gomes foi eleito primeiro presidente da agremiação no Estado, derrotando, por uma pequena margem de votos, o professor José Alves, que era apoiado pelas correntes trotskistas. Eliezer e era trabalhador do almoxarifado de uma empresa metalúrgica e fazia parte do Sindicato dos Metalúrgicos, sendo, ainda, membro da Pastoral da Juventude do Meio Popular e próximo do PRC. Acabou militando numa organização de esquerda clandestina, o PCBR, que defendia a luta armada.