Nonato Guedes
Em 2022 conclui-se o mandato do senador paraibano José Maranhão (MDB) no Congresso e, possivelmente, será entoado o canto do cisne da carreira política do líder que se projetou a partir de 1954 como o mais jovem deputado e que logrou a proeza de tornar-se tríplice coroado no exercício do governo do Estado, contrariando previsões de alguns niilistas ou de analistas políticos desinformados. Sempre se diz, de Maranhão, ser imprevisível, o que alimenta a suspeita de que em 2022 poderá tentar partir para a reeleição. Mas também há quem avalie que Maranhão tem juízo de sobra para entender que estará diante da hora de pendurar as chuteiras, até porque será uma eleição isolada ao Senado, geminada apenas com a de governador. Para esta, o ciclo de JM está inapelavelmente esgotado.
A quase certeza de que este é o último mandato político-parlamentar de Maranhão cria a perspectiva de surpresas na corrida pelo espólio por ele enfeixado, no quadro político paraibano. Pergunta-se em algumas áreas: não será a ocasião para o ex-governador Ricardo Coutinho encarar um pleito a que não se habilitou em 2018, decisão que teria lhe custado certo arrependimento após deixar o palácio, sobretudo pela falta de tribuna, em meio ao fogo cruzado da Operação Calvário, que mirou seus governos? É provável, dependendo de como Ricardo vai estar posicionado no contexto da Calvário, na qual, formalmente, até hoje, não foi citado. Mas, como rompeu com João Azevêdo e praticamente passou a controlar o PSB, como queria, quem sabe não seria a chance de bater-se com o próprio Azevêdo – o único ex-aliado que ele não derrotou até hoje, por razões óbvias?
Antes dos embates majoritários de 2022, mais precisamente no próximo ano, o calendário pontuará eleições para prefeitos, vice-prefeitos e vereadores em todo o território nacional. A dados de hoje, Ricardo é tido como pré-candidato favorito do PSB à prefeitura de João Pessoa, tanto mais porque retomou o comando do partido e porque conta com respaldo da cúpula nacional socialista, sem falar que, teoricamente, conserva sinais de excelente receptividade junto a parcelas expressivas do eleitorado. Mas não será a prefeitura empecilho para quem pode sonhar com o governo – ou o Senado, em 2022? Não para Ricardo, que já trilhou esse caminho em pleno segundo mandato de prefeito, conquistado em 2008, dele se afastando a tempo de concorrer ao governo estadual em 2010, saindo vitorioso. Não lhe custará nada escolher candidato ou candidata a vice de sua confiança, que possa empalmar a titularidade em hipótese de desincompatibilização dele.
Para não reforçar a impressão de que todos os espaços eleitorais à vista só favorecem Ricardo, vale lembrar que estarão disponíveis para eleições majoritárias em 2022 atores conhecidos como o ex-governador e ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB), que não deverá disputar novamente a prefeitura de Campina Grande em 2020, o próprio Romero Rodrigues, que estará concluindo segundo mandato como prefeito daquela cidade, o deputado federal Efraim Filho, líder emergente nos quadros do DEM, que apostará fichas na eleição de candidatos a prefeito em cidades influentes do Estado para se cacifar lá na frente, o atual prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, e seu irmão gêmeo, Lucélio (este chegou a pleitear o Senado, sem êxito, em 2014) e outras lideranças emergentes, de vários partidos, que sempre acham que a vez pode ser sua. Sem falar nos “azarões”, que aparentemente largam sem qualquer perspectiva e que de repente, no curso da campanha, por alguma razão que no esporte seria atribuída ao Sobrenatural de Almeida, no dizer de Nelson Rodrigues, na política é atribuída ao “imponderável”, fator subjetivo mas cujo potencial de destruição ou alavancagem de candidaturas o eleitor conhece de cor e salteado.
Se der na telha de Ney Suassuna voltar a sonhar com o Senado, quem o impedirá de ir adiante, por mais que a dados de hoje o empresário da Barra da Tijuca esteja devotado a colégios eleitorais menores, como o da Academia Paraibana de Letras? Só o eleitor, claro, terá o condão de barrar a volta à cena de um político que já foi tratado na mídia como “trator”, pela habilidade e desenvoltura com que liberava recursos para a Paraíba e abria portas, em Brasília, nos escalões federais, para pleitos de interesse do Estado. E se Wilson Santiago (PTB), que ocupou o mandato de Cássio em 2011 por cerca de dez meses até uma sentença do TSE, resolver que deve se arriscar novamente ao Senado, agora que retomou o mandato de deputado federal? Acaso Luiz Couto, do PT, estará proibido de, outra vez, acalentar o desejo de ser senador, que não lhe foi permitido em 2018? Por aí vai, na miríade de partidos existentes e na constelação de líderes em atividade. Pelo visto, só quem não será convidado para a festa de 2022 será José Maranhão, que terá a opção, todavia, de gozar o merecido repouso do guerreiro.