Nonato Guedes
Desde a restauração das eleições diretas para prefeitos de Capitais, em 1985, pelo menos três gestores de João Pessoa empataram em número de mandatos conquistados nas urnas: dois, obtidos mediante candidaturas à reeleição. Cícero Lucena foi eleito em 1996 quando ainda pertencia ao PMDB e reeleito em 2000 já pelo PSDB, ao qual se filiou acompanhando o grupo Cunha Lima, que havia rompido com o então governador José Maranhão. Ricardo Coutinho, que migrou do PT para o PSB, elegeu-se em 2004 e foi reeleito em 2008. Luciano Cartaxo foi eleito originalmente em 2012 pelo Partido dos Trabalhadores, tornando-se o único gestor petista de capital no Nordeste, mas, depois de transitar pelo PSD, reelegeu-se em 2016 pelo Partido Verde.
Cícero chegou à prefeitura de João Pessoa depois de ter sido vice-governador de Ronaldo Cunha Lima, na chapa eleita em 1990, tendo ocupado a titularidade do mandato por dez meses, quando Ronaldo renunciou para concorrer ao Senado e ser eleito na disputa de 1994. “Ele demonstrou vocação como administrador e projetou-se como político”, definiu, na época, o ex-deputado Gilvan Freire. Natural de São José de Piranhas, Cícero atuava na construção civil em posição de liderança junto a entidades da categoria empresarial quando foi atraído por Ronaldo para ser seu companheiro de chapa ao governo do Estado. A escolha surpreendeu repórteres políticos e analistas em geral, mas Cícero demonstrou, mais tarde, apego à política, tendo sido eleito senador. Ocupou, também, a Secretaria de Políticas Regionais, com status de ministério, do governo Fernando Henrique Cardoso. Em 2012, Lucena tentou voltar à prefeitura de João Pessoa mas foi derrotado nas urnas, em segundo turno, por Luciano Cartaxo. Atualmente, seu nome volta a ser cogitado para o páreo, agora em 2020, mas ele não confirma interesse em concorrer, embora seu nome continue em pauta internamente.
Ao deixar a prefeitura, Lucena foi alvo de denúncias sobre suposto envolvimento em esquema de fraudes de licitações públicas, tendo sido alcançado pela chamada Operação Confraria e levado para a Polícia Federal para depor. Nessa ocasião, ele exercia a secretaria de Planejamento do governo do Estado, titulado por Cássio Cunha Lima, e entregou carta com pedido de exoneração do cargo. Durante o período em que foi senador, empenhou-se obstinadamente em provar sua inocência nos processos, tendo saído, ao final do mandato, com atestado de absolvição na totalidade dos casos, conforme ele revelou a jornalistas, queixando-se de tentativa de “linchamento” da mídia contra ele. Cícero participou de importantes embates eleitorais do PMDB no Estado, sempre nos bastidores, e seu dinamismo fez com que ele fosse estimulado a mergulhar no palco da política. Na campanha de 94, quando Antônio Mariz ganhou o governo derrotando Lúcia Braga, Cícero participou do palanque sem comprometer a máquina, credenciando-se ao respeito de segmentos da opinião pública. Nos dois mandatos de prefeito, teve dois vices: Reginaldo Tavares e Haroldo Lucena.
Ricardo Coutinho candidatou-se em 2004 como consequência da sua trajetória política em João Pessoa, onde nasceu, e da sua ligação com movimentos sociais atuantes. Pretendia concorrer pelo PT mas enfrentou processo interno de queimação, com ameaça de expulsão por infidelidade partidária e resolveu ingressar no PSB. No primeiro mandato, teve como vice Manoel Júnior, então PMDB, com quem se desentendeu em pouco tempo. No segundo, indicou como vice Luciano Agra, arquiteto e neófito em política (já falecido), que o substituiu quando da renúncia de RC para concorrer e ganhar o governo do Estado em 2010. Coutinho rompeu com Agra diante da insistência dele em se lançar candidato a prefeito em 2012 e manejou os cordéis do PSB para homologação do nome de Estelizabel Bezerra. Como represália, Agra encampou a candidatura do homônimo Luciano Cartaxo, que se elegeu tendo como vice o jornalista Nonato Bandeira, atual secretário de Comunicação de João Azevêdo. Para o segundo mandato, Cartaxo optou por Manoel Júnior, ex-PMDB, hoje Solidariedade, que tenta obter o apoio do sousense Luciano para postular a sua sucessão.
O primeiro prefeito de João Pessoa na fase de retomada das eleições diretas em Capitais foi o médico Antônio Carneiro Arnaud, vitorioso numa composição com o esquema do ex-governador Wilson Braga, que indicou como vice o ex-vereador Cabral Batista. Carneiro cumpriu apenas um mandato de prefeito e afastou-se da militância política, retomando a atividade profissional. Outros políticos que se elegeram prefeito de João Pessoa foram Wilson Braga, em 88, após ter sido governador e Chico Franca, filho do ex-prefeito Damásio Franca, recordista de permanência na prefeitura pessoense. Chico Franca substituiu Lúcia Braga, de quem era vice, após impugnação da candidatura dela, em 1992, e derrotou, no segundo turno, o candidato Francisco Lopes, ex-deputado estadual, do Partido dos Trabalhadores. Foi a primeira vez que o PT logrou ir para o segundo turno na Capital paraibana.