Nonato Guedes
Líderes tucanos da Paraíba e expoentes de alguns segmentos de oposição estão dando ao ex-senador Cássio Cunha Lima o seu “tempo” para espanar de vez a poeira da campanha eleitoral de 2018 e terminar de lamber as feridas da própria derrota na luta pela reeleição. Cumprida essa catarse, que tem um viés de autocrítica misturada com reflexão, a expectativa é de que Cássio se tome de entusiasmo para ocupar espaços na cena política estadual já tendo em vista as eleições para prefeitos em 2020. O que se alega é que o filho do poeta Ronaldo, malgrado o insucesso nas urnas, é a grande referência para dar rumo a uma oposição que não está sabendo tirar proveito de um presente que lhe foi oferecido de bandeja – a crise no PSB e no agrupamento dos girassóis entre o ex-governador Ricardo Coutinho e o governador João Azevêdo.
Cássio tem mais cacife pela liderança que ainda detém e pela experiência que acumulou ao longo de embates memoráveis sustentados com figuras de projeção do horizonte político estadual. Ele combateu o ex-governador José Maranhão, duelou com o senador Veneziano Vital do Rêgo a partir de Campina Grande e passou por uma convivência dolorosa com Ricardo Coutinho, procurando-o como aliado em 2010 para depois ser alvejado por ele, de forma que se confrontaram nas urnas seguindo a lógica ditada pelos fados do destino. Por pouco não se enfrentaram “vis a vis” – Cássio e Ricardo – como candidatos ao Senado no ano passado. Mas não passou desapercebida a Cássio a obstinação de que Coutinho tomou-se para contribuir para a sua derrota, custasse o que custasse. Na tática obsessiva para desconstruir a imagem de Cunha Lima, Ricardo mimoseou o próprio PT local, articulando a candidatura do ex-deputado federal Luiz Couto a senador. E nem precisava chegar a tanto porque Cássio tinha concorrência forte dentro de casa – a senadora eleita Daniella Ribeiro, com quem fez dobradinha. O fator em que Ricardo apostou, mesmo, na sua política pessoal de terra arrasada contra Cássio foi a candidatura de Veneziano, que se impôs muito mais pelos seus méritos do que por eventual apoio do gestor socialista. Não custa lembrar que a aproximação Ricardo-Veneziano é recentíssima e que nos mandatos empalmados por “Vené” na prefeitura de Campina ele foi praticamente tratado a pão e água pelo líder socialista encastelado no Palácio da Redenção.
O desafio hoje colocado para a oposição paraibana é o de atuar em duas frentes – contra o governo de João Azevêdo e contra a onipresente atuação de Ricardo Coutinho, por mais que estes dois estejam arreliados e em processo vertiginoso de rompimento. Combater Azevêdo é um pouco difícil porque ele está conseguindo “fazer” a despeito da falta de colaboração de Ricardo e do grupo que este comanda. Dá-se, também, que o atual governador faz questão de pontuar seu estilo diferente do estilo do antecessor: dialoga, por exemplo, com prefeitos de outros partidos, como Luciano Cartaxo e Romero Rodrigues, e tem canal direto com ministros do governo Bolsonaro, não necessariamente com o presidente da República, que é um desagregador nato e chegou a fazer referências desairosas ao governante dos paraibanos, embora não seja empecilho ao atendimento de demandas de interesse do Estado.
A impressão que se tem, nos meios políticos, é de que houve, realmente, “tsunami” no cenário de 2018, como chegou a definir Cássio Cunha Lima, tanto assim que, a dados de hoje, a situação é de vaca desconhecer bezerro, alimentada pelo cisma no arraial socialista e pela prolongada queda-de-braço intestina que se trava nas hostes do PSB. O que se nota é que Azevêdo, embora renegado por Ricardo e por seus, digamos, ‘ventríloquos’, não tem pressa em deixar o partido que, como sabem a torcida do Flamengo e os torcedores dos outros times de destaque, virou propriedade particular de Coutinho e seu grupo. Há quem diga que é “birra” de João para irritar Ricardo, que se julga o galo Chantecler – como há quem especule que a inexistência de sangria desatada por parte de João quanto a ficar ou não na sigla deve-se ao fato de que ele tem tempo para decidir o que fará, ao contrário de outros que são prisioneiros do calendário de 2020.
Para alguns analistas políticos, seria curial que o líder das oposições, nesta fase de turbulência que acomete a Paraíba, fosse o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, do PV, ou o seu irmão, Lucélio, que se candidatou ao governo em 2018 e ficou em segundo lugar. Mas a verdade é que o “clã” Cartaxo não investiu na estadualização dos seus espaços, a despeito da campanha majoritária que projetou Lucélio de Cabedelo a Cajazeiras. É um “clã” que parece focado exclusivamente na Capital, onde a sucessão de Luciano estará em jogo – possivelmente com Ricardo Coutinho no meio, para atrapalhar. Cássio, que está de cabeça fria e respira qualidade de vida entre São Paulo e Brasília, não pode ficar desatento a nuances que clamarão por sua “reentrée”, contrariando o cronograma que ele se traçou. Política continua sendo atividade dinâmica, como popularizou na crônica local o “filósofo” Manuel Gaudêncio.