Nonato Guedes
Em declarações feitas no exterior, mais precisamente em Abu Dabi, antes de viajar para o Catar, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, deixou claro que não pretende interferir nas eleições municipais que serão disputadas no próximo ano em diferentes capitais, cidades e localidades do país, para prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Segundo Bolsonaro, não é sua intenção criar atritos com partidos e candidatos da chamada base aliada que vão concorrer ao pleito municipal, diante do seu interesse em manter apoio a matérias de interesse público encaminhadas à apreciação e debate da Câmara e do Senado Federal.
Fontes políticas, em Brasília, avaliaram a declaração de Bolsonaro como sintoma de que ele não deverá participar ativamente de palanques eleitorais no próximo ano, deixando a tarefa para emissários oficiais que não tenham os problemas que ele pode vir a ter. Mas não se descarta pressão para que Bolsonaro compareça a alguns redutos onde estiver crítica a disputa, sobretudo em virtude do confronto com partidos de esquerda e com o Partido dos Trabalhadores, que luta para ter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como principal cabo eleitoral, na hipótese de lhe ser assegurada liberdade pelo Supremo Tribunal Federal.
Por outro lado, ainda no exterior, o presidente Jair Bolsonaro admitiu o interesse de criar um partido próprio, que, conforme sugeriu, poderia ser denominado de PDN – Partido da Defesa Nacional. Indagado por jornalistas se não teria cogitado de filiar-se ao “Patriotas”, o mandatário admitiu que seria uma boa opção, também, mas insistiu em que o PDN pode vir a se materializar. Ele deu a entender que, por vontade própria, não gostaria de deixar o PSL, mas considera difícil ver o partido pacificado, diante do agravamento das brigas entre filiados e da ameaça de defecções em diferentes Estados. Sobre o propósito da deputada Joice Hasselmann, ex-líder do governo na Câmara Federal, de se candidatar a presidente da República em 2022 pelo PSL, Bolsonaro desejou-lhe boa sorte e insinuou que “seria fácil” para ela essa candidatura.
O presidente já delimitou, com bastante antecedência, que pretende concorrer a um novo mandato para dar continuidade ao que chama de reformas, iniciadas com a reforma trabalhista, passando pela da Previdência e se encaminhando para a reforma tributária. Por outro lado, considera-se representante legítimo de facções expressivas da sociedade que, de acordo com ele, rejeitam propostas da esquerda, que tenta reocupar espaços no cenário nacional depois da derrota em 2018 que possibilitou a rearticulação de forças da direita, com as quais Bolsonaro se identifica. O mandatário lamentou que Joice tenha sido tragada da liderança do governo no meio dos choques políticos ocorridos ultimamente e reconheceu que ela foi útil à sua gestão em momentos decisivos. Ele salientou, finalmente, que ainda vai aguardar a “decantação” das divergências políticas para ter uma visão mais nítida da conjuntura que vai se formar no país tendo como pano de fundo eleições estratégicas.