Nonato Guedes
Líderes tucanos em São Paulo articulam uma candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin a vereador pela Capital nas eleições do próximo ano, a pretexto de atuar como puxador de votos para eleição de uma bancada expressiva e, ao mesmo tempo, oxigenar uma provável candidatura dele, novamente, ao governo do Estado, em 2022. Ainda não há consenso a respeito, face à oposição do governador João Doria e à resistência do próprio Alckmin em concorrer à vereança. Mas a pressão em cima dele pode surtir efeito. Alckmin já foi vereador, prefeito, governador, deputado federal e estadual e candidato a presidente da República. Em tese, soa estranho que um ex-presidenciável dispute o posto mais baixo da representação legislativa. Mas há precedentes disso, em São Paulo e na Paraíba.
Em São Paulo, é atualmente vereador o ex-senador Eduardo Suplicy, um dos condestáveis do PT nacional. Teve uma votação acachapante e, no rastro desses votos, arrastou uma bancada expressiva para o legislativo mirim. Na Paraíba, depois de ter sido eleito governador em 1982 com uma diferença de 151 mil votos sobre o principal adversário, Antônio Mariz, Wilson Leite Braga elegeu-se prefeito de João Pessoa em 1888, logo renunciou para concorrer novamente ao governo, sendo derrotado por Ronaldo Cunha Lima em 90, e decidiu, em 92, para não ficar sem mandato, e também como estratégia para atrair uma bancada expressiva, concorrer a uma cadeira na Câmara Municipal de João Pessoa. Foi eleito presidente da Casa na nova legislatura instalada em 93, mas não esquentou o lugar. Em agosto renunciou à presidência “em caráter irrevogável”, tendo sido convocada nova eleição para preenchimento do cargo. Na disputa acirrada, Josauro Paulo Neto levou a melhor com 11 votos, ficando Aristávora Santos com 10. Braga acabou renunciando ao próprio mandato de vereador, pelo desejo de voltar ao cenário estadual onde, entre revezes, pendurou as chuteiras como deputado na Assembleia Legislativa, onde havia começado em 1954.
Como vereador-presidente, Braga chegou a requerer licença por 25 dias para participar de um Congresso Internacional sobre Transporte Público na Tunísia. Na verdade, ele não se empolgou propriamente com o mandato de vereador, dando a impressão de que estava cumprindo tabela. Até certo ponto era uma atitude justificável, pelo fato de Wilson ter tido uma longa e profícua trajetória como deputado estadual e federal. Neste último mandato, exerceu cargo estratégico na Mesa da Câmara dos Deputados e ganhou notoriedade entre seus pares. Dos cargos que pleiteou, seu signo só não bateu com o Senado. Perdeu a eleição por duas vezes. Seu orgulho maior era ter dirigido a Casa do Estudante da Paraíba em João Pessoa, que serviu como ponta-de-lança para a sua ascensão na vida pública. O prefeito eleito de João Pessoa em 92 foi Chico Franca, que era vice de Lúcia Braga e a substituiu devido ao impedimento dela. Franca foi para o segundo turno contra Chico Lopes, que era deputado estadual do PT. Foi a primeira vez, na história política da Capital, que o PT teve forças para ir ao segundo turno. Mas Franca levou a taça para casa.
Em 1992, deu-se a ampliação da bancada de esquerda na Casa Napoleão Laureano. De dois representantes de partidos diferentes na legislatura anterior –Derly Pereira, do PT, e Renô Macaúbas, do PCdoB, a Casa passou a contar em 93 com três, todos do Partido dos Trabalhadores: Avenzoar Arruda, Carlos Barbosa de Souza (CBS) e Ricardo Coutinho, que, mais tarde, viria a ser prefeito da Capital por duas vezes e governador do Estado, igualmente por dois mandatos.O aumento da representação de esquerda foi atribuído, na época, à insatisfação popular com a conjuntura nacional, que abrigou denúncias de corrupção no governo do presidente Fernando Collor, culminando com o seu impeachment.
Outros nomes que compuseram a legislatura de 92 em João Pessoa ainda estão por aí, em evidência, como Durval Ferreira, Ruy Carneiro, Tróccoli Júnior, Aristávora Santos, Francisco Ferreira de Lima (Pinto do Acordeon). Destacavam-se, ainda, Genivaldo Fausto, Hervázio Bezerra, Creusa Pires, João Gonçalves, Marfo Antônio. A Câmara Municipal chegou a instalar uma CPI da Prostituição Infantil, tendo como relator Ricardo Coutinho, com a finalidade de investigar, discutir e denunciar os principais responsáveis pelo aliciamento de menores na Capital e cidades vizinhas. Políticos de projeção nacional estiveram na Paraíba para debater a grave questão, como a senadora Benedita Silva, os deputados federais Chico Vigilante, Célia Mendes, Jandira Feghalli e Lúcia Braga. Entre os requerimentos constantes da legislatura, menciono um, sem ligar para o cabotinismo: o do vereador “Tavinho” Santos requerendo à Casa “congratulações ao governador do Estado pela indicação do jornalista Nonato Guedes para a superintendência do jornal “A União”. O governador era Ronaldo Cunha Lima, tendo como vice Cícero Lucena.