Linaldo Guedes
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Pego emprestado uma expressão da escritora Ana Adelaide para intitular este artigo. De fato, estamos vivendo no Brasil, hoje, uma espécie de glamourização da atividade de escritor. E isso ocorre por ene fatores, que fazem com que muitos jovens estejam se iniciando na atividade literária bem mais cedo do que as gerações anteriores.
Um dos fatores cruciais talvez seja a realização das feiras ou festivais literários. Só neste fim de semana tivemos dois na Paraíba, em Areia e Bananeiras, ambos com boa afluência de público e uma interação muito forte entre jovens escritores e autores mais renomados. A Flip, de Parati, continua a ser a feira mais cobiçada e até as polêmicas que envolvem o evento a cada anúncio do homenageado do ano, só servem para fortalecer ainda mais o segmento. Aqui, na nossa pequenina Paraíba, é impressionante a quantidade de feiras e festivais literários, em municípios grandes, como Campina, ou pequenos, como Pocinhos.
As feiras e festivais valorizam o trabalho do escritor, da escritora, e isso é fato. Nelas circulam autores estreantes, junto aos consagrados, acontecem oficinas, workshops, palestras, debates, sempre em torno da atividade da escrita. Mas não são apenas elas.
Outro fator tem sido o cada vez maior número de editoras independentes surgindo no país, descentralizando o mercado editorial. Na Paraíba, junto às tradicionais União, Editora Universitária e a Ideia, já temos Escaleras, Patmos, MVC, Arribaçã, Enclave e Forma Editorial.
Essas editoras fazem um papel muito importante de disseminação da atividade literária, revelando novos autores que não têm acesso às grandes editoras, e consolidando nomes já conhecidos. No Festival Literário de Bananeiras, realizado no final de semana passado, uma mesa debateu o papel das editoras, como elas funcionam, suas dificuldades e como fazer com que as obras lançadas alcancem o público-leitor-consumidor.
Claro que nem tudo é perfeito. Há muitas falhas no mercado editorial, na cadeia produtiva de livros, na relação autor/autora com editoras. Falhas que são discutidas e debatidas justamente dentro dos festivais literários e a partir dessas discussões pode se aperfeiçoar a “engrenagem”.
Essa série de atividades pinçadas aqui neste artigo acabam criando a “glamourização” de que falamos acima. Como me disse Ana Adelaide, os jovens sempre escreveram, mas era mais para consumo interno. Hoje, não. Hoje, os jovens já chegam aos 18 anos dizendo que querem ser escritores. E alguns até lançam livros antes dos 20 anos. Cientes de suas responsabilidades com a atividade da escrita, fazem oficinas e cursos de Escrita Criativa para se aperfeiçoarem no métier. E já escolhem ser escritores por conta própria, e não por indução ou apenas vocação. Sempre há alguém a dizer que isso está gerando escritores e escritoras em excesso, que o mercado não comporta, que muitos não têm qualidade, etc e coisa e tal. Vejo, no entanto, como algo positivo. O tempo sempre separa o bom do ruim, o mercado comporta o que for colocado nele e quanto a ter escritores em excesso, ah, neste momento em que o país vive, quanto mais tivermos livros literários ou não, melhor teremos a disseminação da leitura e, consequentemente, de uma atividade que algumas autoridades ainda sonham em proibir: o livre-pensar.
Linaldo Guedes é poeta, jornalista e editor. Com 11 livros publicados e textos em mais de trinta obras nos mais diversos gêneros, é membro da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal) e editor na Arribaçã Editora. Reside em Cajazeiras, Alto Sertão da Paraíba, e nasceu em 1968.