Nonato Guedes
Para quem não sabe, o jornalista Walter Santos foi pioneiro no jornalismo digital na Paraíba, numa época em que essa mutação ainda era cheia de incógnitas e de desconfianças. Ele foi um dos servidores moicanos da Universidade Federal da Paraíba que aderiu ao PDV (Programa de Demissão Voluntária) no governo Fernando Henrique Cardoso, que teve escassa receptividade no Estado. Sempre irrequieto e antenado com as coisas da modernidade, adepto do mantra de Geraldo Vandré segundo o qual “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, Walter Santos largou a zona de conforto em que aparentemente se encontrava e apostou as suas economias e o seu “feeling” na construção do portal que leva suas iniciais e que se tornou marca registrada na história da Comunicação, não somente pelo pioneirismo mas pela credibilidade e pela pertinácia com que o idealizador se atirou à empreitada, da qual alguns fizeram pouco caso.
O portal “Wscom”, convivendo com dificuldades e até com hostilidades de governos de plantão que são apenas um registro na História da Paraíba, mantém-se vivo e referenciado, com acessos que dimensionam a sua repercussão. Walter buscou expandir suas atividades jornalísticas, investindo na revista “Nordeste”, para cuja manutenção sempre atravessa um rio São Francisco de projeção continental, com pedras, rochedos e mar de sargaço, sem desistir jamais. Ex-presidente da Associação Paraibana de Imprensa, ex-secretário de Comunicação escolhido pelo governador Antônio Mariz, que elegeu a “Solidariedade” como marca da sua breve gestão, ex-editor de jornais como “O Momento”, onde foi mestre de gerações, Walter propaga conceitos com a facilidade de quem transita pelas áreas política e cultural, ou com a desenvoltura de quem se fortaleceu na ginga da sobrevivência na Torrelândia & alhures da Grande João Pessoa. Um desses conceitos com a assinatura de WS é o da “proatividade”, que ele aplica a ações de resultados para operar mudanças, cortes epistemológicos no tecido da sociedade em que habita. Tem mais: acolhe preocupações profundas a nível nacional e, nessa conjuntura, tem um portfólio de interlocutores de fazer inveja a qualquer profissional veterano de imprensa da Paraíba.
À parte esse registro que de há muito se impunha da minha parte, pela admiração e pelo reconhecimento “up to date” ao trabalho de Walter Santos, ocorre-me a lembrança da sua trajetória a propósito de um telefonema que trocamos no fim de semana a pretexto do centenário de nascimento do fundador da Sudene, Celso Furtado, em 2020. Inevitável que a conversa descambasse para as trivialidades da mídia contemporânea na pequenina, que sofreu inflexões com o advento de sites, blogs, portais e a avassaladora utilização de redes sociais, com pessoas de extratos variados atribuindo-se a condição de jornalista ou de repórter, sem a menor qualificação para tanto. Uma invasão alienígena previsível diante do território de ninguém em que se transformou a “web”, espécie de porta-voz de notícias positivas, “para cima”, e de cenário de desfile de recalques, de acertos de contas, de instintos primitivos disfarçados, que não acrescentam nada ao debate democrático – não estivessem em voga, nesses tristes tempos bolsonarianos, esqueletos como um certo AI-5, de nefastíssima memória, e retorno a uma ditadura militar que produziu tantas vítimas da repressão, tantas vítimas do “talvez, quem sabe”, órfãos do “nunca”.
Pois bem! Em meio ao cipoal de reminiscências, coube a Walter Santos, como de hábito na sua porção vanguardista, jogar a sentença lapidar para reflexão de todos nós: “vivemos a uberização da mídia na Paraíba”. Até a comemoração do centenário de nascimento de Celso Furtado, ouso dizer que Walter Santos não precisa dizer mais nada de ”proativo”, “intuitivo” ou profundamente ”reflexivo”. Ele já disse o essencial pelo resto de ano que nós temos e pelo ano que vai nascer. A ‘uberização’, claro, é uma referência ao sistema alternativo de transporte misto ou individual que sucede aos conhecidos táxis, hoje vítimas inexoráveis do processo de adaptação para o qual não houve preparação ou reciclagem.
A “uberização” da imprensa, nos termos colocados por Walter Santos, tem a aparência enganosa da liberdade de expressão, mas está longe de garantir a credibilidade e a fundamentação de informações repassadas a esmo via redes sociais ou sites e blogs que mais parecem caças-níqueis, aviltando a condição profissional do jornalismo, que continua a ser uma arte nobre. Há exceções, claro, que merecem alvíssaras e evoés, pelo compromisso com a informação e a ética. Mas, em tempos de “fake news”, não custa nada manter alerta, como fazem os escoteiros, e fugir da esterilidade que desgraçadamente tem penetrado nos círculos de reflexão e debate do país.