Kubitschek Pinheiro
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Vi Caetano Veloso falando no Supremo na tarde de ontem (terça-feira, 04) noutro palco cênico, defendendo o cinema, o ator, o cantor, o arista, o desenhista, Com ele, artistas, cineastas e atores participaram de uma audiência pública para discutir um decreto do presidente Bolsonaro que transferiu o Conselho Superior do Cinema do Ministério da Cidadania para a Casa Civil. A audiência foi conduzida pela ministra Cármem Lúcia. Ouvir Caetano é sempre muito bom. Muito bom, bom demais. Caetano de muitos palcos.
Fui dormir pensando nele, um homem de quase 80 anos, lutando pela cultura brasileira, pela igualdade, pela liberdade de expressão. Olhei meu Instagram e vi que um seguidor fez um comentário deselegante na postagem que fiz ( foto enviada pelo amigo Francisco Taboza) do artista cumprimentando a ministra. Apaguei e bloqueei tal criatura. Ora, o cara vai lá na postagem e escreve horrores acusando as pessoas. Te dana!
De manhã cedo o celular toca e é o genial cineastra pernambucano Jomard Muniz de Brito, me convidando para discutir o título da redação Enem, que teve algo a ver com cinema. Que cinema? Que democratização? Que Brasil? Essa seria a minha redação.
O magnifico Jomard segurava minha mão numa visita rápida à casa de Bernardo Bertolucci, em Roma. Invariavelmente, depois, da “viagem” de Bertolucci, voltamos a ânsia (a)normal do mundo, por meio do “Último Tango em Paris” e, claro, com a perspetiva da cena da manteiga com Maria Schneider, que disse muitas vezes antes de morrer, não ter sido avisada de nada. Tipo assim: pimenta no dos outros é refresco.
Aliás, deixei a ideia de Jomard para o Natal e contemplei o filme “Anos Dourados” de André Téchiné que conta a história de um soldado que deserda durante a Segunda Guerra Mundial e se veste de mulher para escapar da lei. Isso acaba mexendo com seu comportamento sexual. O filme é belo, nostálgico com cenas menos molhadas que a da manteiga de Bertolucci. Esquece. Cinema é atração que não some.
Caetano noutro palco cênico lembra o seu filme “Cinema Falado”. O cineasta Luiz Carlos Barreto e os atores Caio Blat, Caco Ciocler e Dira Paes estavam lá no Supremo e cada disse o necessário. Ao abrir a audiência, a ministra destacou que o evento não tinha a intenção de debater censura. “Censura não se debate, censura se combate”. Pow!
Ali na frente da TV lembrei novamente de Bertolucci com seu filme “Os Sonhadores” de 2003. É um clássico. Assistam. Belo demais. Poucas pessoas têm a coragem de fazer um strip-tease de palavras. Talvez os eunucos, aqueles que se mostram incapazes de distinguir o que se passa no mundo real, com suas causas e efeitos colaterais. O que é ser eunuco?
O que existe entre a roupa e o corpo não cabe numa performance. Nem aumenta, sequer diminui o tormento de estar vestido ou nu, para mostrar que quando está vestido, está nu, e quando está nu não é apenas para chamar a atenção: independente do ângulo. Bem mais sublime foi ver Caetano Veloso noutro palco cênico. Terra, por mais distante o errante navegante, quem jamais te esqueceria…