Nonato Guedes, com “Memória Globo”
Um dos acontecimentos de grande repercussão na história dos 50 anos do “Jornal Nacional”, da Rede Globo de Televisão, que ainda estão sendo celebrados, foi a renúncia, por problemas de saúde, do papa Bento XVI (Joseph Ratzinger), anunciada no dia 11 de fevereiro de 2013, consumada a 28 de fevereiro e que pegou o mundo inteiro de surpresa. A renúncia do Pontífice quebrava uma tradição de quase seis séculos. Historicamente, os líderes da Igreja Católica permanecem no cargo até o fim de suas vidas. O “Jornal Nacional” teria que fazer uma excelente cobertura sobre a surpreendente decisão de Bento XVI de deixar o pontificado. Mas a correspondente da Globo em Roma, Ilze Scamparini, que ficou conhecida entre muitos telespectadores, como a “mulher do papa”, estava no Brasil, aproveitando merecidas férias. Ilze é especialista em assuntos do Vaticano, e a Globo tinha um problema para resolver.
Numa medida improvisada, de emergência, a Globo decidiu mandar correspondentes de Londres, os mais próximos de Roma, naquele mesmo dia. No entanto, o choque e o interesse global pela notícia fizeram sumir, em instantes, todos os bilhetes de voos comerciais entre as duas cidades. Não havia um único par de assentos livres. Marcos Losekan e Sergio Gilz juntaram suas roupas e equipamentos e correram para o aeroporto, sem garantias. Depois de horas de negociação, uma empresa finalmente confirmou que conseguiria abastecer e decolar ainda naquela tarde. Era inverno no Hemisfério Norte, a Itália estava três horas à frente do Brasil. Ali Kamel, diretor-geral de jornalismo da Globo, autorizou o embarque. Na noite de 11 de fevereiro de 2013, de Roma, Marcos Losekan deu, ao vivo, no “Jornal Nacional”, pela primeira vez, a notícia quente da renúncia de um papa. Porque a viagem do Brasil era mais longa, Ilze Scamparini chegou a Roma um pouco depois para assumir a cobertura dos preparativos para escolha de um substituto do Sumo Pontífice.
No mês seguinte, acompanhada de Patrícia Poeta, Marcos Uchoa, Edu Bernardes, Gerson Camarotti e Marco Antônio Gonçalves, sob a coordenação da diretora de Jornalismo Sílvia Faria, Ilze Scamparini contou no “Jornal Nacional” os detalhes do conclave que transformou o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio em papa Francisco. Coisas da vida de correspondente, Ilze Scamparini voltou ao Brasil em julho do mesmo ano, dessa vez para acompanhar o novo líder católico que visitava o país por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. No retorno a Roma, em entrevista coletiva aos jornalistas credenciados pelo Vaticano, uma pergunta de Ilze Scamparini recebeu de Francisco a seguinte resposta: “Se uma pessoa é gay, e procura Jesus, e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”. Naquele dia, o “Jornal Nacional” não teve prioridade. Jornais do mundo inteiro correram e também destacaram a declaração histórica que Ilze Scamparini arrancou do novo papa dentro de um avião. Um dia histórico, de qualquer modo.
O “Jornal Nacional” é o mais antigo programa da Globo em exibição. Sua história de meio século registra os fatos mis relevantes da história mundial, bem como as evoluções tecnológicas de tratamento de informação que vêm transformando as comunicações em todo o mundo. Por isso, o “Jornal Nacional” tem recebido atenção especial do “Memória Globo” desde seu início. “JN: 50 anos de telejornalismo” foi o terceiro livro dedicado ao telejornal. Pelas suas páginas, desfilam recordações de profissionais, alguns deles responsáveis pela fundação da emissora, outros jovens que têm contribuído para manter o JN próximo de cada nova geração de telespectadores. O executivo João Roberto Marinho define: “O aniversário de cinquenta anos do Jornal Nacional guarda uma importância enorme. Foi o JN que realizou na prática um sonho que meu pai, Roberto Marinho, nutriu desde a década de 1950: unir o Brasil por meio da televisão em rede, um feio cujas consequências benéficas para o país são reconhecidas por estudiosos de diversos matizes”. No próximo sábado, a jornalista pessoense Larissa Pereira, apresentadora do telejornal JPB Segunda Edição, da TV Cabo Branco, estará na bancada do “Jornal Nacional”. Representando a Paraíba. E fazendo história.